LISBOA — Os três personagens dividindo o palco de abertura do Web Summit eram bem representativos da escala e heterogeneidade deste evento de tecnologia que se consolidou como o crème de la crème das feiras mundiais de inovação.
Nicolas Julia — que fundou uma plataforma de fantasy football usando non-fungible tokens (NFTs) que já vale US$ 4,3 bilhões — foi seguido por Ayo Tometi, a criadora do ‘Black Lives Matter’, um dos maiores movimentos sociais da história dos Estados Unidos. Depois dela veio Frances Haugen, que foi do anonimato ao estrelato vazando documentos sigilosos do Facebook.
Esses três ‘revolucionários’ resumem o espírito do Web Summit, que reúne de ‘startupeiros’ a grandes empresas, de capitalistas tentando achar o ‘next Facebook’ a ativistas e empreendedores tentando salvar o mundo.
O evento deste ano trouxe mais de 40 mil pessoas para a capital de Portugal, reanimando o turismo da cidade depois de dois anos de escassez de matéria-prima. (Nas principais praças turísticas de Lisboa, a prefeitura colocou placas gigantes comemorando o evento — o que certamente deixou turistas que não vieram aqui para o evento desgostosos com a poluição de suas fotos do Instagram).
O público deste ano é significativamente menor que o da última edição presencial em 2019, que teve 70 mil pessoas, mas é um indicativo importante de que as coisas finalmente estão voltando ao normal no mundo tech.
“Todo mundo está olhando para o Web Summit porque ele é o primeiro grande evento de tech pós-pandemia,” disse Márcio Coelho, o fundador da Brivia, uma consultoria de transformação digital que trouxe uma comitiva de mais de 80 brasileiros para o Summit. “Ele vai ser um indicativo importante para outros eventos como o South by Southwest, que está marcado pro começo do ano que vem.”
Um verdadeiro Lollapalooza para ‘geeks’, o Web Summit foi uma das primeiras conferências de tech do mundo desde que começou em 2009.
Nos primeiros anos, o festival aconteceu na Irlanda, o país natal do fundador Paddy Cosgrave, mas desde 2016 o evento se mudou para Lisboa, onde ocorre numa parte moderna da cidade — que em nada tem a ver com o ar medieval das ruas do Bairro Alto ou do Chiado.
Dentro do evento, há praticamente um ‘pitch’ por metro quadrado.
Num dos stands, os fundadores da Exclusible — uma startup de Cascais — explicavam a quem passasse por lá sua ideia revolucionária: uma plataforma de artigos de luxo baseada em NFTs.
No marketplace da Exclusible, o usuário pode comprar NFTs de obras de arte e artigos de luxo que depois passam a ser exibidas numa espécie de galeria digital.
A alguns metros dali, a Juicy Marbles, uma foodtech dos Bálcãs, mostrava sua mais recente inovação: o primeiro filé mignon plant-based do mundo. Um grupo de mais de 100 pessoas ouvia atentamente, em pé.
O fundador da Juicy, Vladimir Mickovic, jura que seu filé tem o mesmo gosto e textura do original, mas — apesar do apelo da platéia — não deu detalhe nenhum sobre a fórmula.
“Ele é feito com uma máquina que desenvolvemos e à base de soja… Mas isso é tudo que eu posso dizer! Com certeza algum de vocês aqui deve ser da Nestlé…”