NOVA YORK — A passagem mais barata de NYC para Tóquio tem endereço, e ele é quase secreto. Pelo menos por enquanto.

Nutro um fascínio raro pelo Japão, por sua cultura e acima de tudo pela culinária, mas vivenciá-las de perto eventualmente exige uma logística complicada. Mas como o desejo teima em sucumbir à realidade, sempre existe a opção de buscar espaço em um sushi bar daqueles clássicos, capazes de oferecer uma experiência genuína aos comensais. Infelizmente, raros foram os momentos em que cheguei perto desse sentimento. 

Mas recentemente, pude dar por encerrada essa busca. Longe de mim pecar pela soberba. Torço para encontrar restaurantes tão ou mais impactantes do que o Uogashi (318 W 51st St;  646-678-3008), e eles certamente devem existir no Japão e mesmo aqui em Nova York. Apenas garanto que o pequeno salão na 51 West, entre a oitava e nona avenidas, já ocupa lugar de destaque no meu panteão de japas prediletos.

E como poderia ser diferente se atuns, polvos, ouriços e camarões, entre tantas iguarias, são trazidos semanalmente do mercado Tsukiji e das águas de Hokkaido? Como, se o chef Take-san, miúdo e de voz suave, mas com mãos firmes ao preparar joias como o sushi de toro ($12) ou de ovas de salmão ($6), consegue manter um ritmo constante de preparos durante toda a noite? Como, enfim, se, embora a carta de saquês convide ao exagero (a garrafa de 180ml do melhor Otokoyama sai por $15), todos adotam um comportamento típico de quem percebe viver um momento especial?

A minha grande frustração em restaurantes japoneses tidos como renomados se dá pelas prioridades estabelecidas por donos de restaurantes e seus investidores. Via de regra, o ambiente e detalhes estéticos de gosto duvidoso — ainda que, vá lá, possam agradar a um determinado tipo de clientela —, prevalecem sobre o que realmente conta em uma casa disposta a servir boa comida. Não no Uogashi.

Nessa pequena jóia encravada em Midtown West, a grande estrela é a sequência de detalhes que precisam coexistir em harmonia para o sucesso do empreendimento: ótimos cozinheiros, uma equipe competente atrás do balcão; peixes e frutos do mar de qualidade excepcional. A atmosfera? Simples. Como deve ser.

Vale dizer, dentre os melhores toques finais do jantar, um em particular me fez lembrar do meu japonês preferido em São Paulo, o Hamatyo, localizado na Pedroso de Moraes, em Pinheiros: a sopa de vôngole. (Quanto ao sorvete de chá verde, entretanto, não tem jeito. Só indo lá mesmo.)

A razão pela qual o Uogashi passou a receber um número maior de clientes nos últimos meses pode ser explicada pelas críticas favoráveis e o invencível boca-a-boca em uma cidade que vive da competição, em especial na gastronomia. Já a razão por esses dois fatores terem coincidido se deve aos preços convidativos em relação ao atendimento impecável e uma qualidade rara de peixes e frutos do mar.

Não é todo dia, afinal, que um omakase completo sai por menos de US$ 100 (Omakase-Tori, $95). Ou que sua versão estendida não ultrapasse os US$ 150 (Omakase-Hana, $135).

Tóquio sempre será Tóquio. Entretanto, a rua 51 oferece um atalho que merece ser explorado.