A maioria dos bons gestores de fundos de ações brasileiros não perdeu dinheiro com a queda das ações da Petrobras, pois conheciam de perto os problemas da empresa e sabiam que uma implosão era questão de tempo.
Mas agora, estão perdendo com a alta.
Desde que o ano começou, Petrobras ON sobe 40%, e a PN, 33%. Nos últimos 30 dias, a alta da ON chega a 65%.
A maioria dos fundos ‘long only’ (aqueles cujo mandato é ficar comprado em ações, em vez de apostar na baixa) competem com o Ibovespa para receber a parte mais importante de sua remuneração, a taxa de performance.
Como as ações da Petrobras têm um peso de 10% no índice (somando a ON e a PN), e como quase nenhum gestor brasileiro tem Petrobras na carteira, o índice está começando a andar mais rápido do que a performance destes fundos.
Após o fechamento desta quarta, o índice Bovespa sobe 9,82% este ano. Desta performance, quatro pontos percentuais são atribuíveis a Petrobras.
Isso coloca os gestores no seguinte dilema: comprar o papel, mesmo não acreditando nos fundamentos, ou não comprar e se arriscar a ficar para trás?
A alta da Petrobras acontece sem que os fundamentos da empresa tenham mudado, qualquer venda de ativos relevante tenha sido feita, ou que os rumores de um aumento da gasolina tenham se materializado. De positivo, há a iminência de um balanço cuja data de publicação já foi remarcada várias vezes, um empréstimo de 3,5 bilhões de dólares de um banco chinês cujas condições até agora são desconhecidas, e a venda de um pacote de ativos cujo timing e compradores ainda são incertos.
A situação é análoga à de 2010, quando a Petrobras fez seu controvertido aumento de capital.
“A maioria dos gestores detestava o papel e achava que devia ficar de fora, mas raciocinaram que, depois da oferta de ações, o papel ‘rasgaria para cima’ e eles ficariam para trás,” diz um gestor. “Agora, é a mesma coisa.”
Do universo de 12 gestoras com estratégias ‘long only’ cujos fundos são distribuídos pela Credit Suisse Hedging Griffo, uma das maiores alocadoras de capital do País, nenhuma está batendo a Bolsa neste ano até agora.
Nem toda a performance abaixo do índice pode ser atribuída à Petrobras. Mesmo antes da alta da estatal, muitos fundos já estavam perdendo do Ibovespa porque estavam comprados no setor de educação, que implodiu, e em empresas de pequeno valor de mercado, as small caps.