Com o aumento da longevidade e as dificuldades de sucessão, as empresas que fixam um limite máximo de idade para a diretoria ou o conselho de administração estão flexibilizando as regras – e o dispositivo vem caindo em desuso.

O movimento mais recente foi o da Porto Seguro, que chamou uma assembleia para o começo de dezembro para elevar a idade máxima do cargo de presidente do conselho, de 70 para 72 anos. 

É uma forma de manter na posição Jayme Garfinkel, que completou sete décadas neste ano. Ele deixou a presidência executiva em 2012, mas ainda é a cara da seguradora, tendo sido o principal responsável por torná-la líder em seguros automotivos no país. 

Exemplos como o de Garfinkel são abundantes. Se há algumas décadas executivos com 65 anos estavam no fim de carreira e a morte parecia um destino próximo, hoje boa parte deles está em plena forma e no auge da experiência.

Ninguém se arriscaria a sugerir aposentadoria compulsória para Warren Buffett, chairman e CEO da Berkshire Hathaway (85 anos), ou descartaria Abilio Diniz (80) por estar ‘muito velho’ para comandar um negócio.

A idade média dos CEOs das empresas que compõem o Ibovespa é de 55 anos, segundo levantamento feito pelo Brazil Journal.  As contratações mais recentes para cargos de alta diretoria feitas pela Michael Page no Brasil ficaram em torno dos 50 anos.

“As empresas estão cada vez menos preocupadas com a idade e mais com o que o executivo está sendo capaz de entregar”, afirma Fernando Andraus, diretor executivo da Page Executive.

Na Renner, por exemplo, José Galló acaba de completar 65 anos (25 de empresa) e sua saída terá que ser gentilmente coreografada, já que os acionistas o têm como a principal referência numa empresa sem dono.

Mais delicada ainda é a situação da Multiplan: a história da empresa se confunde com a de seu fundador, José Isaac Peres, 76 anos, até hoje no comando executivo. Sua sucessão é incerta.
 
Por aqui, poucas empresas listadas fixam idade-limite para cargos executivos no estatuto. Os casos mais notórios são Porto Seguro, Itaú, Itaúsa, Bradesco e BM&F Bovespa. 
 
O Itaú previa que o presidente não poderia ter mais de 60 anos. Em 2014, flexibilizou a regra e aumentou o prazo em dois anos, de forma a manter Roberto Setúbal no cargo. O deadline se esgotaria no próximo ano.
 
Semana passada, o Itaú anunciou a escolha de Cândido Bracher como sucessor de Setúbal. Ele tem 58 anos — só dois a menos do que, há pouco tempo, era considerado a idade certa para pendurar as chuteiras.  

Por ora, o banco descarta aumentar novamente o teto: “É importante manter a idade para abrir espaços e dar oportunidades no banco”, disse o chairman Pedro Moreira Salles durante o anúncio de Bracher. 

Na Cidade de Deus, o Bradesco aumentou a idade-limite para a presidência de 65 para 67 anos, ganhando mais dois anos para a substituição de Luiz Carlos Trabuco depois da perda trágica de um sucessor tido como favorito.
 
Por trás dos dispositivos de limitação de idade normalmente está a ideia de preparação para a sucessão e reciclagem nos cargos de direção. Mas, segundo o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), a aposentadoria compulsória não é considerada parte da cartilha de melhores práticas — o importante é garantir sucessões suaves e a continuidade dos negócios.

“Com a idade, em geral, vem algum desgaste físico e mental. Mas isso é muito relativo. A sucessão tem que ser pensada independentemente da idade e as companhias com boas políticas de recursos humanos têm dois ou três possíveis sucessores para cada cargo-chave”, explica Robert Juenemann, conselheiro do IBGC.

O limite de idade para cargos corporativos também já enfrenta oposição na Justiça.

Em agosto, a Vale tentou incluir o teto de 65 anos para o cargo de CEO no estatuto, mas esbarrou na resistência de minoritários, que entraram com uma ação alegando que essa seria uma manobra para barrar candidatos ao cargo de Murilo Ferreira.

O juiz concedeu a liminar. Em sua decisão, argumentou que a idade-limite fere a Constituição e que não pode haver “discriminação de natureza negativa, que venha a excluir os mais velhos de direitos basilares”, como o direito ao trabalho. 

O entendimento foi confirmado em segunda instância pelo desembargador Lucio Durante, que afirmou que a aposentadoria em idade determinada está “longe de ser um prêmio” e que “há outras formas de garantir que não haja estagnação dos cargos diretivos”.

Nos Estados Unidos, apenas uma minoria de empresas tem idade obrigatória de aposentadoria para os CEOs.  De acordo com o The Conference Board, 21% das companhias com faturamento acima de US$ 10 bilhões tem políticas como essa, quase sempre estipulando a idade em 65 anos.

Por lá, a idade média dos CEOs das empresas que compõem o S&P 500 era de 57 anos em 2014, de acordo com a Spencer Stuart.