O Méliuz está comprando o site de cupons de desconto Picodi — sua primeira aquisição desde o IPO e uma transação que aumenta em mais de 30% a receita da empresa.
O Méliuz, um pure play de cashback, pagou R$ 120 milhões em dinheiro por 51,2% da Picodi.
A empresa também negociou uma opção de compra do restante do capital. Esta ‘call option’ — que poderá ser exercida nos próximos três a quatro anos — é vinculada a métricas de novos usuários ativos: se a Picodi bater as metas, o Méliuz pagará o mesmo valor da aquisição de hoje pelos 48,8% restantes. Caso não atinja essas metas, o valor será menor, podendo chegar a zero.
Com sede na Cracóvia, uma cidade no sul da Polônia, a Picodi opera em 44 países e tem mais de 4 milhões de usuários únicos por mês.
A empresa faturou R$ 31 milhões de dezembro de 2019 a novembro de 2020 e “é um business gerador de caixa, com boas margens e sem nenhuma dívida”, Israel Salmen, o fundador e CEO do Méliuz, disse ao Brazil Journal.
Segundo ele, o grande potencial de criação de valor está em aumentar a recorrência de compra dos usuários da Picodi. Enquanto os usuários do Méliuz fazem 7 compras por ano na plataforma, os da Picodi fazem “um número sensivelmente menor”. Isso acontece porque a Picodi ainda não oferece cashback, apenas cupons de desconto.
“O tráfego do Picodi é muito qualificado, mas os usuários não criam um relacionamento de longo prazo com a marca,” disse o fundador. “Quando o cashback é oferecido com uma boa comunicação, eles começam a voltar com muito mais frequência. Queremos repetir lá o mesmo playbook que fizemos no Brasil.”
Israel disse que o Méliuz está em conversas com outras empresas e deve anunciar novos M&As — mas provavelmente menores que o de hoje.
A aquisição vem num momento em que o Méliuz executa uma estratégia de entrar também em serviços financeiros. No ano passado, a empresa lançou um cartão de crédito que já recebeu mais de 3 milhões de solicitações (cerca de 20% foram aceitas), e o plano é passar a oferecer também empréstimo pessoal, crédito consignado e seguros.
As comparações com o modelo do Banco Inter são inevitáveis. Sobre isso, Israel diz que “os neobanks começaram a jornada oferecendo produtos financeiros e depois foram diversificando até chegar no marketplace. A gente está traçando o caminho oposto.”
O Méliuz já tem mais de 14 milhões de usuários cadastrados, dos quais 5,3 milhões são ativos (na definição do Méliuz, qualquer cliente que gerou receita para o site ou indicou alguém nos últimos 12 meses). Segundo Israel, o Méliuz está abrindo uma média de 30 mil novas contas por dia.
A compra da Picodi vem quatro meses depois do IPO do Méliuz, que estreou na Bolsa a R$ 10 e hoje negocia a R$ 28,20.
A companhia vale R$ 3,5 bilhões na B3.
A ação chegou a subir mais de 9% após a notícia, mas fechou com alta de 4,1%.
Entre indas e vindas, as conversas entre Méliuz e Picodi se desenrolam desde 2017. Mas com o IPO — que injetou mais de R$ 300 milhões no caixa do Méliuz — Israel conseguiu ‘pull the trigger’.
“Como empreendedor, esse movimento é mais marcante pra mim do que o próprio IPO. Começamos esse negócio minúsculo num apartamento em Belo Horizonte e desde o primeiro dia tínhamos esse plano de internacionalizar…,” disse ele. “Materializar esse plano é difícil até de colocar em palavras. É o dia mais feliz pra mim dentro do Méliuz.”
O Méliuz foi assessorada no Brasil pelo FM/Derraik (Fabiana Fagundes e Gustavo Dalcolmo) e na Polônia pelo Rymarz ZDort (Pawel Zdort).