Ah, a Disney….  As atrações que marcam a infância…. A limpeza que encanta… A organização que dá inveja dos americanos….

E além de tudo, já reparou que não tem mosquito?

Num estado que tem 29% de sua área coberta por pântanos, os turistas da Disney em Orlando se tornariam um piquenique para insetos — não fosse um programa chamado Mosquito Surveillance Program. 

Não é feitiçaria.  É tecnologia.

Como dizem os africanos, “se você pensa que você é pequeno demais para fazer alguma diferença, é porque nunca passou a noite com um mosquito.” Além do incômodo, mosquitos nos parques da Disney exporiam milhões de turistas ao risco de vírus transmitidos por eles, como Zika e West Nile.

Por trás do controle dos mosquitos estão os profissionais do Reedy Creek Improvement District, criado em Orlando na década de 60 pelo próprio Walt Disney para regular a região onde ele construiria o complexo de parques.

Disney, o empresário, propôs ao governo local levar uma grande atração turística para a Flórida — um marasmo até então — mas exigiu, em troca, mandar e desmandar no seu próprio distrito, controlando temas que vão desde a energia elétrica e transporte até o corpo de bombeiros. Todos os impostos do Reedy Creek vêm somente da própria Disney. 

Desde então, uma equipe de cientistas do Reedy Creek faz toda a pesquisa sobre os mosquitos e cria regras de implementação para o Disney Pest Management. O programa inclui colocar nos parques animais que se alimentam de mosquitos, além de uma combinação precisa de inseticidas e os chamados ‘reguladores de crescimentos de insetos’, que inibem os hormônios de crescimento dos bichinhos. 

Há ainda uma dezena de galinhas espalhadas pela Disney, devidamente marcadas para saber por onde cada uma circula. Elas não comem os mosquitos, mas têm outra função: os cientistas testam seu sangue semanalmente em busca de anticorpos — onde há anticorpos, há vírus. 

(No caso do West Nile, por exemplo, caso picadas, as galinhas não adoecem, e ainda produzem anticorpos suficientes para manter a quantidade do vírus baixa e não passar a doença para mais mosquitos. Sabendo por onde andava cada galinha, os pesquisadores localizam o foco de mosquitos e partem para o ataque.) 

Tem mais: 60 armadilhas contendo monóxido de carbono são espalhadas pela região, para atrair e matar os mosquitos. As armadilhas são então levadas a um laboratório, onde cientistas estudam as espécies, os lugares onde eles se concentram, detectam a idade e quantos insetos já depositaram ovos. A partir daí, agem nas áreas afetadas. 

Walt Disney começou a se preocupar com o tema antes da construção dos parques, quando conheceu o general Joe Potter, que havia sido responsável por construir as áreas federais da Feira Mundial de 1964, em Nova York. 

Formado pelo MIT, Potter passou 38 anos no exército, dirigiu a logística da invasão do norte da França na Segunda Guerra, e anos depois foi indicado pelo Presidente Eisenhower para governar a Zona do Canal do Panamá. 

Visionário, Disney contratou Potter para ser vice-presidente de mais uma batalha: construir o complexo da Disney World, no meio daquele pantanal de 100 quilômetros quadrados, estabelecendo o Reedy Creek, inaugurado em 1967. 

O general supervisionou toda a construção subterrânea e operação de tratamento de água, esgoto e energia, e criou canais por toda a propriedade para manter o nível da água baixo. 

Potter priorizou a prevenção dos mosquitos, em vez de sua eliminação. Acabou com todos os locais de água parada, lugar predileto para colocar os ovos. Todas as águas no parque são correntes, vindas de fontes ou cachoeiras artificiais. Além disso, Potter vetou o cultivo de plantas que retêm água, como a vitória-régia. 

Ainda assim, um fumacê passa duas vezes por dia, de manhã cedo e no fim da tarde. Uma das poções mágicas borrifadas é o extrato de alho, criado por Potter a pedido de Disney, que deixou claro que preferia o uso de substâncias naturais. O cheiro de alho é abominado pelos mosquitos, mas o spray é imperceptível aos humanos — incluindo princesas e piratas.