Um dos grandes debates no mercado é por que o investidor estrangeiro está (bem) mais otimista com o Brasil do que o local.

Para Bruno Coutinho, da MAR Asset, uma gestora de multimercados, o gringo tem uma vantagem que é não se sensibilizar tanto com o ruído.

“O gringo olha o histerismo do Brasil e acha que tem muito ruído, e acha que o Brasil está organizado, que a dívida/PIB não é tão alta assim…” disse ele durante o Latin America Investment Conference, do Credit Suisse. 

“O risco dessa análise é menosprezar o sinal que algumas vezes está dentro do ruído. O ruído surge porque é muita gente tentando identificar sinais iniciais de que pode haver um problema, e às vezes você enxerga alguma coisa ali.”

Para ele, o Governo Lula 3 é um desses casos — e, sim, os ruídos escondem sinais preocupantes.

“O Lula é muito diferente da Dilma em várias coisas, mas tem uma característica dos dois que é muito parecida: a intolerância com a desaceleração econômica,” disse ele.

Segundo ele, dado o cenário global, a desaceleração hoje é necessária e bem vinda. “É natural do ciclo, mas o Lula enxerga como uma ameaça,” disse. “A Dilma fez isso também: quando a desaceleração começou a aparecer ela apertou todos os botões disponíveis para tentar mudar isso – e vimos o resultado.”

No mesmo painel, André Raduan, da Genoa Capital, concordou, mas disse que não acha que o governo vai caminhar para um cenário de ruptura ‘à la Dilma’.

“Acho que o Brasil é um aluno nota 5. Parece que vai repetir de ano, aí vai lá, faz um esforço e passa,” disse ele. “O Lula tem que endereçar a base política que o elegeu, mas ele sabe que não pode criar uma crise econômica que vai prejudicá-lo. Então, é um governo que vai ficar balançando esses dois pratinhos.”

Os dois gestores debateram também a política monetária dos Estados Unidos — e discordaram na essência.

André acredita que a alta da Fed Funds já conseguiu surtir efeito na economia, com uma desaceleração em vários setores que deve levar a inflação para a meta. Bruno acha que não é bem assim.

“Concordo que a alta do Fed gerou desaceleração, mas os EUA estavam crescendo a 5,5% há dois anos. Não acho que a desaceleração seja suficiente para levar a inflação para a meta,” disse Bruno.

Ele nota que a desaceleração está vindo com uma taxa de desemprego ainda muito baixa, o que mantém a inflação resiliente.

“Os reajustes do salário este ano devem vir em 4%, 5% com uma inflação de 3%,4%. Isso é um ganho real na renda das pessoas e vai gerar um boost para o consumo americano.”

Na margem, isso pode gerar uma reaceleração da economia. “Não temos convicção enorme, mas entendemos que enquanto a alta de juros não produzir a alta do desemprego, temos dúvida se a desaceleração da inflação é consistente ou temporária.”

Segundo ele, se ela for temporária e o Fed parar de falar em subir os juros, haverá um problema à frente. 

Notando que o desemprego ainda está baixo (mas subindo), André lembra que os EUA já trabalharam com 2x vagas abertas para cada pessoa procurando emprego, um indicador que já caiu para 1,7x “e vai cair para 1,6x. Para normalizar precisa chegar em 1 para 1, mas o Fed já fez um aumento significativo dos juros,” disse.

O gestor da Genoa disse ter dúvida se a taxa terminal nos EUA será mesmo os 5,25% que o Fed anunciou, mas “achamos que já estamos perto do fim do ciclo, e que a economia provavelmente vai entrar em leve recessão no segundo ou terceiro trimestre.”