A Aeris — a maior fabricante de pás eólicas do Brasil — mandatou quatro bancos para levantar R$ 1,5 bilhão, num raro IPO de uma empresa de bens de capital na B3, fontes próximas à companhia disseram ao Brazil Journal. 

Os coordenadores são BTG Pactual (líder), XP, Morgan Stanley e Santander, e a transação deve ser precificado até o final de outubro. 

A oferta será majoritariamente primária (R$ 900 milhões), mas uma parcela secundária dará saída parcial aos atuais acionistas — o empresário Alexandre Negrão, que fez fortuna com a venda da Medley para a Sanofi em 2009, e alguns executivos da empresa. 

Fundada em 2010, a Aeris produz pás eólicas em duas fábricas em Fortaleza e vende para os principais fabricantes de geradores eólicos do mundo: a General Eletric, a WEG, a alemã Nordex Acciona e a dinamarquesa Vestas. (No ano passado, 70% da produção foi exportada.)

A Aeris deve faturar R$ 2,2 bilhões este ano, com um EBITDA de R$ 280 milhões. 

Os recursos do IPO vão permitir que a empresa dobre de tamanho até 2023, chegando a uma receita de R$ 5 bi. A Aeris já tem um backlog de mais de 10 mil pás eólicas para serem entregues nos próximos três anos — equivalente a tudo o que a empresa produziu desde que foi fundada — mas precisa de capital para arcar com o capex.  

No longo prazo, além da migração da matriz energética para fontes renováveis a Aeris deve se beneficiar do ganho de share de fontes eólicas entre as renováveis. A participação da energia eólica na matriz energética mundial deve saltar de 8% para 21% até 2050, ao mesmo tempo em que a demanda por energia deve dobrar no período, segundo projeções da Bloomberg.

No Brasil, a Aeris competia até pouco tempo com a Tecsis, uma empresa de Sorocaba que foi objeto de uma tentativa de reestruturação liderada pelo banqueiro Pércio de Souza. A Tecsis entrou em recuperação judicial após uma sequência de problemas — incluindo a perda de seu maior cliente (a GE, que respondia por quase 90% das vendas). 

O caso da Tecsis evidencia um risco inerente ao setor: a geração eólica está nas mãos de quatro grandes empresas globais. Por outro lado, essas empresas estão cada vez mais terceirizando a produção das pás, criando oportunidade para fabricantes independentes. O maior cliente da Aeris (a Vestas) responde por entre 50% e 60% de seu faturamento. 

O principal peer global da Aeris é a americana TPI Composites, que vale US$ 1,2 bi na Nasdaq e negocia a um múltiplo EV/EBITDA de 12x para 2021.

Segundo pessoas próximas à companhia, a Aeris tem margens e retornos substancialmente superiores à TPI. Além de uma maior eficiência na fábrica e na compra dos insumos — que se traduz numa margem líquida de 10%, frente a 2% da TPI — a Aeris costuma precificar suas pás com base no ROIC dos projetos de seus clientes, o que permite que ela tenha um ROIC médio de 38%, contra 7% da TPI.

“Isso é um grande diferencial dessa companhia. E ela consegue porque tem um processo de fabricação bem tailor-made… ela personaliza as pás para as necessidade de cada cliente,” diz um executivo do setor. 

A Aeris nasceu quando quatro engenheiros elétricos deixaram a Embraer com a ideia de criar uma fabricante nacional de pás eólicas líder de mercado. Para tirar a ideia do papel, procuraram Negrão, que investiu R$ 100 milhões ao longo dos três primeiros anos. 

Hoje, a família Negrão tem 85% do capital, e o restante está dividido entre os oito principais executivos (entre eles, os quatro fundadores). Os dois conselheiros independentes são Edison Ticle, o CFO da Minerva e conselheiro do Grupo Soma, e Solange David, uma veterana do setor elétrico e ex-conselheira da CCEE.

Para alinhar os interesses, os executivos terão que cumprir um período de lock-up de quatro anos.