Em 2013, os controladores da Profarma acharam que a melhor forma de gerar valor para a distribuidora de medicamentos era verticalizar o negócio, comprando pequenas redes de farmácias que já eram suas clientes.

11084 cf97cf01 8ae0 634b a33f 3f59f6f2424aO que parecia uma ideia brilhante se provou um pesadelo. Veterano com 30 anos de mercado, o CEO Sammy Birmarcker apanhou como um neófito: teve que investir mais do que esperava na reforma de lojas, fechou dezenas delas, sofreu para ajustar o estoque e — no processo — aprendeu o ‘dirty little secret’ do varejo farmacêutico: vender o mesmo shampoo no Leblon e em Nova Iguaçu são coisas completamente diferentes.

A operação finalmente virou, e agora a Profarma está vindo ao mercado fazer o IPO desse negócio de varejo, dono de 190 lojas com as bandeiras Drogasmil, Farmalife e Tamoio, no Rio de Janeiro, e a Rosário, no Centro-Oeste.

Batizada de D1000, a holding é o terceiro nome do setor de drogarias a acessar o mercado neste momento: a Pague Menos está taxiando na pista com seu IPO, e a Panvel, no meio de uma oferta de R$ 1,2 bilhão.   

No meio da faixa indicativa — que vai de R$ 17 a R$ 20,32 — a D1000 quer levantar entre R$ 439 milhões e R$ 478 milhões numa oferta 100% primária. No topo da faixa, a companhia vai valer R$ 1 bilhão.  Pós-oferta, a Profarma — cujo negócio de distribuição tem margem EBITDA de 2% e opera sempre ao redor do breakeven — deve ficar com cerca de 53% da D1000.

Os recursos devem fazer a D1000 sair de uma dívida líquida de R$ 200 milhões para um caixa líquido de R$ 200 milhões, que em seguida será usado para abrir mais lojas.  

O foco da expansão deve ser a Tamoio, a bandeira mais focada na baixa renda e tida como a melhor operação da D1000. A Tamoio tem a maior venda por loja da empresa e um maior mix de higiene, beleza e genéricos, cuja margem bruta é o dobro dos medicamentos de marca.  

Mas com um histórico de apenas 10 lojas abertas no último ano, a D1000 — que tem falado em abrir 40 lojas ano que vem e 40 em 2022 — terá que provar que consegue executar bem nesta nova escala.

Alguns gestores acham que há motivo para otimismo. Nesta pequena amostra de lojas abertas recentemente, a venda por loja está acima do esperado. Recentemente, a D1000 passou a usar uma matriz que cruza seus 3 posicionamentos de marca com os tamanhos possíveis de loja (são 5, de PP a GG) para pré-definir o sortimento de cada loja, substituindo o achismo por dados históricos. 

As decisões na empresa são cada vez mais tomadas com base em dados, em vez da explicação clássica: “porque sempre foi assim.” Por fim, consciente de que opera num mercado de margens apertadas, a empresa trabalha com o overhead no osso.

No mercado, há quem compare a D1000 à BR Pharma, a plataforma de consolidação de drogarias que enfrentou o pesadelo da integração e acabou virando pó. Mas enquanto a BR Pharma tinha uma lógica mais financeira, a D1000 é comandada por gente do ramo.  Birmarcker também é o CEO e controlador da Profarma — aliás, uma coincidência de papéis que pode suscitar questionamentos de governança. 

Num mercado em que toda drogaria cobiça os múltiplos suculentos da Raia Drogasil, todas estão dispostas a admitir que não são a Raia — e a aceitar algum nível de desconto.

No pipeline atual, quem vai melhor é a Panvel, cujo follow-on deve sair com um desconto mínimo, estimado entre 5% a 10%. No IPO da Pague Menos, fala-se num desconto de múltiplo de 20% a 25%. Já a D1000 tem sinalizado que aceitará um desconto de 47% — considerando um EV/EBITDA de 10x para o ano que vem. 

Investidores que olharam a D1000 dizem que a companhia teve margem EBITDA de 3% ano passado e pode fazer até R$ 70 milhões de EBITDA em 2021, com uma margem de 4,5%. Para efeito de comparação, a Raia Drogasil opera com margem EBITDA de 7%, e a Pague Menos, de 3%. 

Os coordenadores da oferta são a XP (líder) e o BB Investimentos.

Numa live do Banco Safra semana passada, Eugênio De Zagottis, da Raia Drogasil, disse que Sammy “é um cara sério, que teve a coragem de fechar lojas ruins numa escala que nenhum outro player teve a coragem de fazer. … Fechar lojas ruins é geralmente melhor do que abrir lojas, porque você elimina tudo o que come caixa e ainda transfere muita venda para as lojas que sobram, subindo muito a venda por loja e a margem operacional.”

Mas Eugênio disse que o crescimento orgânico hoje é um desafio, “especialmente quando já se tem share muito alto na região ou para entrar em novos mercados, porque todos os estados são sobreadensados e a barreira de entrada é brutal. No caso dele, competir com Venancio, Pacheco e Raia lá vai ser duro, mas o mérito do que ele conseguiu até agora é claro.”