O Carrefour vai fechar uma série de lojas deficitárias na França, espremer os fornecedores por preços mais baixos e apostar no Carrefour Drive – em que o consumidor compra online e retira na loja mais conveniente – para entrar de vez no ecommerce.
As iniciativas são parte do plano de reestruturação da operação francesa que será anunciado pelo CEO Alexandre Bompard em 23 de janeiro, mas foi antecipado pela revista especializada local Linéaires.
Originalmente, o anúncio do novo plano estava previsto para ainda este ano. O adiamento foi interpretado como um sinal de que as mudanças serão duras e poderiam alienar os funcionários em pleno Natal.
Logo após assumir o Carrefour, em agosto, Bompard teve que dar más notícias: com dificuldades na França, em meio aos preços menores dos rivais e a concorrência com o ecommerce, a previsão é que o lucro operacional da companhia caia 12% este ano. Desde então, os papéis acumulam baixa de quase 10% na Bolsa da Paris; no acumulado do ano, perdem mais de 20%.
Para reverter a situação, Bompard quer fechar ainda ‘diversas’ lojas que operavam com a bandeira Dia e foram convertidas para Carrefour. Segundo a publicação, que não deu o número exato de fechamentos, a conversão não foi suficiente para reverter o déficit das unidades.
“Estávamos esperando uma melhora na margem EBIT da França em 2018, mas agora [com os fechamentos de lojas] isso parece um risco”, disse um analista do UBS em relatório.
A companhia pretende ficar espartana: vai aumentar o número de ‘self checkouts’ – os caixas de atendimento próprio – para diminuir o gasto com o pessoal. Os orçamentos para reformar lojas foram cortados, e dois terços dos 300 projetos de tecnologia de informação em curso serão abandonados.
As negociações com fornecedores também devem ser mais duras para conseguir atacar um dos principais problemas: em média, os preços do Carrefour na França estão 5% acima dos da principal concorrente, a Leclerc.
“Os fornecedores foram avisados: as negociações em andamento serão difíceis, muito difíceis. Não vai dar para se refugiar no discurso de defesa dos agricultores franceses”, destaca da reportagem da Linéaires.
Nesta semana, o Carrefour anunciou uma aliança com o grupo Fnac-Darty para a compra conjunta de eletrodomésticos e eletrônicos, uma forma de ganhar poder de barganha com os fornecedores. A iniciativa vinha sendo estudada há anos, mas enfrentava a resistência do antigo CEO, Georges Plassat. Com a chegada de Bompard, que estava à frente da Fnac antes de assumir o Carrefour, as conversas destravaram.
O foco, no entanto, deve ser o segmento alimentar – não só em mercearia, mas no ‘food service’, com opções de sanduíches, frutas e alimentos prontos para comer na hora. O plano de investimento vai contemplar mais lojas com cozinhas próprias e balcões para que os consumidores possam comprar e consumir na própria loja.
Para crescer no ecommerce, Bompard quer escalar o Carrefour Drive — modalidade em que o consumidor compra pela Internet e marca um horário para retirar a compra na loja mais próxima. “Atingir escala no ecommerce deve adicionar custos ao modelo operacional e traduzir isso numa linguagem que os investidores entendam será crucial no plano”, ressaltou a equipe do UBS.
Desde que chegou, Bompard já implementou uma série de mudanças. Em setembro, promoveu uma dança das cadeiras entre as lideranças nas operações de diversos países – inclusive no Brasil, onde Charles Desmartis foi defenestrado dois meses depois do IPO da operação local dando lugar a Noel Prioux, que comandava a problemática operação francesa.