Dez anos atrás, Luiz Fernando Destro estava falando no celular na rua quando sua bateria acabou do nada.
Depois de xingar o céu, o inferno (e a fabricante do celular), o engenheiro começou a se perguntar que dia iam inventar uma tecnologia capaz de carregar o celular wireless – levando para as baterias a mesma inovação que o Wifi trouxe para a internet.
Ao descobrir que ninguém estava trabalhando em nada parecido, ele decidiu ele mesmo ir atrás da solução.
“Fui pesquisar toda a bibliografia que existia sobre o assunto e vi que todo mundo estava olhando para a alta frequência ou para a indução, que não resolvem esse problema,” ele disse ao Brazil Journal. “Comecei a me perguntar por que ninguém estava olhando para a baixa frequência, que são as ondas de rádio e TV, por exemplo.”
A resposta era óbvia: para capturar uma onda de baixa frequência era necessário uma antena gigantesca…
Fast forward dez anos, e Luiz desvendou o quebra-cabeça: sua startup, a IBBX, criou um aparelho do tamanho de uma caixa de anel que capta ondas eletromagnéticas de baixa frequência que ficam perdidas no ar.
Na prática, a tecnologia da startup captura essa energia, recicla-a e depois a usa, por exemplo, para carregar a bateria do celular que Luiz tanto queria.
A inovação é um marco para o Brasil, e mostra que nem todas as tecnologias de ponta precisam vir de fora. Luiz nasceu e cresceu em Capivari, no interior de São Paulo, e se descreve como um apaixonado por “cavalos, passarinhos e física.”
“Eu estudo física desde que me conheço por gente… Quando eu era criança, minha mãe conta que eu matava moscas e tentava dar choque pra ver se elas ressuscitavam,” ele conta rindo.
Luiz entrou em física na Unicamp, trocou por engenharia em Piracicaba – mas largou a faculdade para trabalhar numa empresa de construção industrial.
A IBBX já tem 11 pedidos de patentes depositados – cinco no Brasil e seis lá fora.
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Apesar de ter sido criada para carregar o celular wireless, a tecnologia da IBBX tem casos de uso muito mais amplos e complexos – e, na realidade, a grande aposta da startup é usar sua tecnologia para viabilizar a indústria 4.0.
A IBBX desenvolveu sensores que capturam milhares de dados das máquinas industriais – como a vibração, temperatura, dados elétricos, pressão, vazão e dados hidráulicos – permitindo prever se e quando a máquina terá algum problema.
Até aí, nada de novo.
A grande diferença dos sensores da IBBX para outros que já existem no mercado é que, em vez de usar baterias, eles funcionam com a energia capturada do ar – e que seria perdida de outra forma.
“Assim como na Avenida Paulista tem torres de rádio e TV que irradiam energia, nas fábricas há painéis elétricos, cabos de média e alta tensão e motores elétricos,” disse o fundador. “Tudo isso irradia uma energia que é desperdiçada todos os dias. O que estamos fazendo é reciclando essa energia e usando ela para monitorar os ativos das fábricas para que eles tenham uma vida mais longa.”
A startup também criou um protocolo de comunicação (para enviar os dados capturados) que permite uma conectividade a grandes distâncias – evitando que as indústrias tenham que usar repetidores, e reduzindo os custos.
A IBBX já fabricou 1.500 desses sensores, que estão sendo usados por grandes empresas como BRF, MWM e Confibra. Segundo o fundador, há mais de 100 companhias considerando adotar a tecnologia.
Para viabilizar a expansão, a IBBX está em conversas com fundos para uma Série A que vai injetar US$ 5 milhões em seu caixa. Até hoje, a startup levantou apenas US$ 2,3 milhões numa rodada seed com fundos como o DGF, Alexia Ventures, e o Bewater Ventures, do ex-CEO da DeVry/Adtalem, Carlos Degas Filgueiras – que também investiu na IBBX na física quando a startup ainda era uma ideia. André Penha, o cofundador e CTO do Quinto Andar, também participou da rodada.
O pitch da IBBX para os fundos é usar a rodada para financiar especificamente essa solução de IOT para a indústria 4.0.
Mas em seu laboratório, a startup tem estudado diversos outros usos para a tecnologia – desde o desenvolvimento de um controle remoto sem bateria até uma câmera de vigilância que funcione com energia wireless, passando por uma lâmpada interna para carros que também seja ligada apenas com a energia perdida no ar.
“As possibilidades são infinitas,” disse o fundador-inventor.
Acima, o primeiro protótipo do device da IBBX junto com o produto final.