O Brasil acordou menos inteligente hoje.
Deixou-nos um dos homens mais brilhantes de sua geração, um verdadeiro revolucionário da educação: João Carlos Di Genio.
Conheci João Carlos nos idos de 1976, quando eu quis levar o Objetivo para Araçatuba. Depois de tentar ser recebido repetidas vezes – sempre em vão – na sede do Objetivo em São Paulo, resolvi dormir no banheiro da sala dos professores para tentar um encontro com o Jorginho, seu eterno braço direito, na manhã seguinte.
Eu estava começando a vida, era dono de um cursinho pré-vestibular em Araçatuba e temia a concorrência que o Objetivo podia me trazer.
Quando soube que um cara havia dormido no banheiro, João Carlos achou a história engraçada e pediu que me levassem à sala dele. Ele estava fazendo a barba e conversamos sobre Araçatuba, ele tinha parentes lá.
Tivemos uma empatia imediata: ele começou a me chamar de “Turquinho” e pouco tempo depois nos tornamos sócios no Objetivo em Araçatuba.
Mas ele sabia que eu queria crescer mais e, numa véspera de Natal, me ligou de Ribeirão Preto para ir lá conversar com ele. Enquanto andávamos em volta da escola, ele me convidou para ser sócio dele também em Ribeirão. Topei na hora e me mudei para lá.
Depois de um tempo, voltei a Araçatuba e tive a oportunidade de conhecer e comprar o COC, uma instituição que, na época, era concorrente do Objetivo. Mas eu não fazia nada sem conversar com o meu padrinho e ter sua benção para prosseguir. Para além de nossos interesses empresariais, ele me dava conselhos e mostrava caminhos a serem seguidos na educação.
Fomos concorrentes, parceiros e amigos. Um tempo atrás, conversamos sobre uma fusão da UNIP com a Estácio e avançamos muito, mas sua saúde piorou e a conversa foi interrompida. Depois, tivemos poucas oportunidade de estarmos juntos: veio a pandemia e infelizmente não consegui mais ver meu amigo.
João Carlos foi meu padrinho de casamento e, na festa, ele e o Jorginho me jogaram de terno na piscina. Ele disse que era para me benzer e dar sorte – mas tendo um amigo e mentor como o João, eu já tinha toda a sorte de que precisava.
Quando montei meu primeiro EAD e coloquei realidade virtual e 3D nas escolas básicas, João Carlos sempre fazia questão de conhecer as novidades; elogiava e dava palpites.
Dono de um QI elevado, ele idealizou escolas para crianças superdotadas e especialmente habilidosas, valendo-se inclusive da tecnologia. Dizia, com razão, que a inteligência e os talentos deveriam ser tratados como a maior riqueza de um país.
Devemos muito a esse homem que trazia a genialidade inscrita no próprio nome. O Brasil perde um grande brasileiro, e eu perco um amigo e um compadre.
Tudo o que sei sobre educação aprendi com ele, a partir do seu exemplo. Tenho orgulho de ter sido discípulo de um mestre inovador, visionário e realizador.
Chaim Zaher é presidente do grupo SEB.