O trekking no Himalaia inclui uma hospedagem numa casinha de família em meio à paisagem montanhosa de Ladakh, ao norte da Índia, onde o Dalai Lama costuma veranear.

Em Svalbard – o arquipélago norueguês que é o ponto permanentemente habitado mais próximo do Polo Norte – o passeio de barco fretado garante uma visão privilegiada da aurora boreal.

E, na Islândia, o ‘glamping’, mistura de camping com glamour, chegou ao estado da arte com o Buubble, um hotel autodenominado “5 mil estrelas” em que o hóspede fica numa bolha transparente no meio da floresta.

Você não vai encontrar estes destinos na CVC, mas na Matueté, o exótico é o básico do dia a dia.

“Somos o concierge do tempo livre”, diz Martin Frankenberg, co-fundador da agência focada em clientes super premium que organiza os roteiros de nove entre dez famílias bilionárias brasileiras.

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Travesseiros de plumas de ganso e torneiras douradas já foram o suprassumo do luxo. Mas quando este é o padrão que se tem em casa, na praia ou na fazenda (ou mesmo na cama do jato particular) – é hora de reinventar o conceito.

Talvez ‘agência de viagens’ não seja suficiente para descrever o trabalho da Matueté (palavra Tupi que significa ‘muito bem feito’). Mais do que comprar passagem – desnecessário quando se viaja de jatinho – reservar hotel ou transfer de aeroporto, a Matueté é uma produtora de viagens ultra personalizadas.

A cada novo destino desejado pelo cliente, a Matueté vai ao local para experimentar tudo e planejar cada detalhe. Dependendo das opções de hospedagem, a Matueté troca os lençóis e travesseiros e até substitui chuveiros. Em uma pousada em Bonito, os chefs Laurent Suaudeau e a baiana Dadá se revezaram na cozinha para um cliente.

 

Em outras palavras, o cliente quer ficar na casinha do pescador – mas com o lençol Trousseau.

“O que se costuma vender como ‘turismo de luxo’ é aspiracional”, diz Martin. “É pra quem não vive no luxo. Para quem tem tudo, o luxo está no humano. É fazer uma viagem com um bom serviço e rodeado dos melhores amigos.”

Viagem com amigos ou familiares para celebrar alguma data é o segmento que mais cresce dentro da Matueté: em 2018, foram 25 (super)produções.

Um casamento nas ilhas gregas ou um aniversário de 60 anos na Toscana, em que os convidados participam da produção de um vinho em Montalcino, a cidade do Brunello, estão entre os roteiros de ‘viagem celebração’ organizados pela agência. (Os amigos do aniversariante na Toscana vão receber as garrafas do vinho com um rótulo personalizado quatro anos depois do aniversário.)

A Matueté foi fundada em 2002, quando Bobby Betenson, paulistano filho de britânicos formado em hotelaria na Suíça e que já havia trabalhado em um hotel no Pantanal, organizou uma viagem da família Lemann à região. Bobby era amigo de Jorge Paulo e Susanna Lemann.

A viagem virou um negócio, e Susanna entrou de sócia na Matueté junto com Bobby e Martin, que vinha de uma carreira no setor de tecnologia. Anita Moraes Abreu se juntou à sociedade alguns anos depois.

Contanto apenas com o boca a boca, a Matueté cresce consistentemente de 10% a 20% ao ano. As margens são “justas”, diz Martin. “Os clientes sabem o valor do dinheiro – e são bons de negociação.”

Existem outras agências no nicho premium, como a Teresa Perez, a mais tradicional do segmento, e a Next2 Travel, onde o cliente é atendido pelas fundadoras — a ex-jornalista Lea Dorf e suas sócias, Roberta Colombo Médicis e Marina Gala — que também viajam e conhecem a maioria dos destinos que recomendam.  Outros três consultores da Next2 também viajam no mínimo duas vezes por ano, do Pantanal à Tailândia, para saber o que estão vendendo.
 
“Uma cliente me disse, ‘Quero ir pra África porque é um destino badalado.’ Falei pra ela, ‘Sim, é badalado pelo serviço que você recebe no meio da selva, mas vai ter que acordar às 5 da manhã pra ver o leão e só vai ter festa mesmo em Cape Town’,” diz Dorf, a sócia da Next2.

A Matueté não está imune à disrupção digital – a nova geração de filhos dos clientes compra diretamente pela internet quando é só hotel e avião. Mas a organização de roteiros ultra personalizados e as viagens celebração, que demanda um serviço quase artesanal, parece ter vida longa.

Em sua origem, a Matueté organizava apenas viagens para brasileiros pelo interior do Brasil. Depois, vieram os amigos estrangeiros dos clientes brasileiros, querendo conhecer o País – hoje eles representam 35% das viagens. Depois que um cliente brasileiro pediu que organizassem uma viagem à África, o Brasil ficou pequeno, e a maior parte das viagens da Matueté hoje é para brasileiros no exterior.

A produção de viagens também se estende ao mundo corporativo. Para os donos de uma empresa de cosméticos com interesse na Amazônia, o roteiro para os executivos incluiu pouso de hidroavião em aldeias indígenas e seminários com especialistas para discutir desmatamento e demarcação de terras.

Já os estrangeiros adoram mesmo o Rio de Janeiro. No último carnaval, um grupo de 30 desembarcou no Galeão em um jatinho e seguiu direto para o desfile das campeãs na Sapucaí – e de lá para Angra dos Reis e Paraty.

Neste Revéillon, 15 suíços fizeram o roteiro cartão postal “padrão” do Rio de Janeiro – mas sem as massas para atrapalhar a fotografia.

A programação incluiu visitas privativas ao Corcovado e ao Pão de Açúcar, passeio de bondinho com vagão exclusivo em Santa Tereza, com banda de sopros a bordo, e terminando com o pôr do sol numa casa com vista privilegiada, onde foi servido jantar com show do Afro Lata, grupo de percussão formada por jovens do Morro do Vidigal.

Apesar da clientela AAA+, a Matueté não tem preconceito contra destinos populares. A agência também organiza viagens à Disney. Além do clássico passe VIP para evitar filas, o roteiro à terra do Mickey inclui um jantar no 21 Royal, o apartamento construído para o casal Walt e Lilian Disney dentro do parque. O jantar custa US$ 15 mil a mesa para 12 convidados.