A ação da Light caiu mais de 10% hoje com um volume negociado três vezes maior que a média diária.
O trigger para a derrocada: o anúncio de que a empresa contratou a Laplace Finanças – que mais recentemente assessorou a Oi durante sua recuperação judicial – para ajudar a buscar “estratégias financeiras visando a melhoria da estrutura de capital.”
A notícia foi dada em primeira mão pelo colunista Lauro Jardim e confirmada pela empresa.
No final do terceiro tri, a Light reportou amortizações de empréstimos, financiamentos e debêntures que somam R$ 3,1 bilhões entre este ano e 2024, para um caixa de R$ 4 bi.
O bond da Light no mercado internacional despencou hoje para 58% do seu valor de face e agora rende 19% ao ano – um sinal de que o mercado aposta que a empresa não conseguirá honrar sua dívida.
Um gestor que acompanha a distribuidora de energia acredita que a Light já pode estar tendo dificuldade de rolar suas dívidas, uma vez que sua concessão está chegando próxima do vencimento (em três anos).
O CEO Octavio Pereira Lopes, que assumiu o cargo em agosto do ano passado, não quis se pronunciar.
“Quando a concessão começa a se aproximar do vencimento fica difícil rolar a dívida, porque nenhum banco quer tomar esse risco sem ter visibilidade do que vai acontecer na renovação,” disse um gestor. “Todas as empresas do setor sofrem com isso, mas quando você tem mais de uma concessão o impacto disso fica diluído. A Light é uma concessão única.”
A Laplace vai certamente conversar com os bancos, mas o consenso no mercado é de que a Light precisa negociar com a Aneel a renovação antecipada da concessão. Só isso daria segurança aos acionistas para investir mais na empresa.
A situação da Light sempre foi mais complexa do que sua estrutura de capital. A companhia opera numa região com índice de perdas e inadimplência entre os maiores do Brasil – em parte porque tem que lidar com o tráfico de drogas e as milícias que dominam parte de sua área de concessão no Rio de Janeiro.
Esse roubo torna mais difícil para a Light entregar as metas de perdas e inadimplências estipuladas no contrato de concessão – fazendo com que a empresa obtenha do regulador reajustes abaixo do que precisa.
Alguns analistas acham que a única solução seria rever o contrato e criar metas mais realistas.
“Em três anos vai haver a discussão de renovação, e me parece que a solução correta para a empresa hoje é dizer que não quer renovar. A concessão deveria retornar para o Poder Concedente, e ele relicitar em novos termos,” disse um analista.
Se isso acontecer, o Governo teria que pagar toda a base de ativos não-depreciados da Light, um número hoje estimado em mais de R$ 10 bilhões.
Mas como seria praticamente impossível ao Governo encontrar um player que pague R$ 10 bilhões pela concessão nos termos atuais, analistas dizem que faz mais sentido negociar com os acionistas atuais uma renovação da concessão com novas metas.
“A Light teve CEOs excelentes nos últimos anos e não conseguiu resolver a situação,” disse o gestor. “Isso mostra que não existe uma bala de prata. Não existe uma solução criativa que ninguém nunca pensou antes.”
Desde seu high em janeiro de 2020, a ação da Light cai 84%. A companhia fechou o dia valendo R$ 1,4 bilhão na B3.