A gestão de investimentos é uma das profissões mais difíceis do mundo: você concorre com gente muito inteligente, o mercado é absolutamente imprevisível, e é impossível controlar todas as variáveis.

Ao mesmo tempo, é um lugar onde muita gente quer estar, porque é possível ganhar muito dinheiro e há um glamour em torno dos que dão certo.  

Perseguindo este sonho, um grupo de estudantes do Insper está saindo da teoria para a prática. 

Os jovens, na faixa de 18 a 22 anos, criaram um clube de investimentos dentro da gestora-laboratório da universidade, a Insper Asset, que antes funcionava apenas com uma carteira teórica.

É a primeira vez que um clube de investimentos será gerido por estudantes universitários. (A FGV já tinha um clube de investimentos para os alunos praticarem, mas para efeito regulatório o gestor é um dos professores da faculdade).

Os recursos para o clube foram captados com as famílias dos próprios alunos, além de professores e ex-alunos. Por enquanto, levantaram pouco mais de R$ 300 mil.

“Queríamos colocar em prática o que estávamos fazendo na teoria, e ter dinheiro de verdade dá muito mais seriedade e responsabilidade para as teses,” disse André Franch, um dos idealizadores da iniciativa e o presidente da Insper Asset. 

O clube de investimentos vai investir apenas em ações (que serão no mínimo 67% do portfólio) e renda fixa. Hoje a carteira tem sete posições; as maiores são SLC Agrícola e Prio, a antiga PetroRio.

As outras posições são Kepler Weber, Jalles Machado, Taurus, Grupo Mateus e Catalyst Pharmaceutics, uma farmacêutica americana. 

André disse que o clube tem um viés de value investing, buscando empresas de qualidade que estejam negociando com descontos em relação a seu valor intrínseco. “Não vamos investir no setor de tech, e não temos posições vendidas,” disse ele. 

Segundo ele, algumas das gestoras que inspiram o clube são Opportunity, Verde, Alaska e Guepardo. 

Essas quatro gestoras — assim como alguns analistas de sellside — também colaboram com os estudantes, ajudando nas análises das empresas e na construção das teses de investimento. 

A tese dos gestores-mirim para a Prio é que o setor de petróleo vai continuar aquecido nos próximos anos, com a demanda se mantendo forte.

Nesse contexto, “fomos buscar os melhores players do setor em termos de eficiência operacional e perspectivas de crescimento,” disse André. “E a Prio se destaca em tudo isso e tem o melhor management entre as junior oils.”

Para chegar no valor justo, os estudantes usaram premissas bem conservadoras.

“Jogamos o preço do Brent lá para baixo, em US$ 65 o barril, que é abaixo do que a própria empresa acha plausível, e aumentamos o lifting cost da companhia,” disse Raphael Cortez, o portfolio manager da Insper Asset. “Também colocamos um desconto em relação ao guidance de produção que eles passaram.”

Com essas premissas, os alunos chegaram a um preço-alvo de R$ 69, em comparação aos R$ 47 que o papel negocia hoje. 

Além de colocar a mão na massa, a ideia dos jovens com o clube de investimentos é deixar um legado para o Insper. 

“Estamos começando com poucos cotistas, mas queremos que entrem cada vez mais cotistas e que o clube vá crescendo todos os anos,” disse Raphael. “Nossa ideia é que ele se torne uma prática recorrente para as próximas gerações de alunos.”