No início do mês, Wilson Ferreira Jr. conversava com os sindicalistas da empresa sobre um plano de demissão voluntária quando sofreu a pior das indigestões e… vomitou a verdade:
“São 40% da Eletrobrás… 40% de cara que é inútil, não serve para nada, tá aqui ganhando uma gratificação, um telefone, uma vaga de garagem, uma secretária. Vocês me perdoem. A sociedade não pode pagar por vagabundo, em particular no serviço público!”
Em outro trecho da conversa, Wilson diz:
“Nós temos muito mais gerente do que devia… E nós temos um monte de safado — lamentavelmente — que ganha lá 30, 40 pau (mil reais). Tá lá em cima… sentadinho… não tá nem aí com a situação sua e tá querendo que você venha aqui e arrume um jeito [de ele ficar] porque ele sabe que ele tá fora! E tem muito… E tem muito..”
Mas talvez o diálogo mais chocante — e verdadeiramente revelador de como as coisas funcionam no intestino da estatal — foi o desabafo feito por um sindicalista ao presidente da empresa:
“Desculpa, Wilson. Mas olha, nós não concordamos com isso não. O problema é o seguinte, cara: é que infelizmente … quando vem o ferrão, não pega esses caras porque eles têm padrinho, ‘bicho’! Pega é a gente aqui!”
Wilson tenta dizer que haverá justiça: “Nããããooo, não vai pegar não…. Não vai pegar.”
Aí está. Neste diálogo honesto de parte a parte está aquele momento mágico em que capital e trabalho se encontram: os dois tentando produzir alguma coisa, mas sendo sabotados pelo apadrinhado político — esta variável desnecessária, custosa e imoral, este atravessador da riqueza, pirata da produtividade, fungo que coloniza tudo que é estatal. (Sem falar nos contratos superfaturados, nas obras inchadas, nos investimentos que nunca darão retorno — tudo comandado por gabinetes em Brasilia e lavado por operadores na Faria Lima.)
Segundo a Broadcast, os adjetivos usados por Wilson geraram “mal-estar na empresa, a ponto de o executivo se ver obrigado a gravar uma fala na televisão interna pedindo desculpa pela ‘veemência’.”
Em resposta, os sindicatos reclamaram de ‘assédio’ e fizeram uma greve de 24 horas na quarta-feira — mas é claro que você não notou.
Caro Wilson: Não peça desculpas por falar a verdade. Você não generalizou. O problema é que é realmente sistêmico. Por favor, não esmoreça no esforço de consertar o que está errado na empresa, até que apareça um Governo corajoso o suficiente para vender a Eletrobras, colocar os apadrinhados na rua, e focar os recursos escassos no que realmente importa para o cidadão: escola, hospital, polícia e metrô.
Caros funcionários da Eletrobras: Não desistam de sublinhar a diferença entre os que realmente dão duro e os outros que estão aí por causa do PMDB, do PT, do PP… sugando a riqueza que vocês geram e enterrando a Eletrobrás na ineficiência e na mediocridade. Vocês, os que realmente trabalham, são tão vítimas quanto o contribuinte brasileiro.
Geraldo Samor