O brasileiro voltou a viajar com força no segundo trimestre, produzindo um crescimento de três dígitos nas vendas da CVC num momento em que a maior operadora de turismo do Brasil ainda precisa fortalecer sua estrutura de capital.
As reservas confirmadas subiram 124% na comparação anual, para R$ 3,8 bilhões.
Já a receita líquida ficou em R$ 269 milhões, uma alta de 133%.
Depois de um começo de ano ruim, de março para frente “os números só vêm melhorando, e de forma consistente,” o CFO Marcelo Kopel disse ao Brazil Journal. “Os destinos internacionais estão ajudando muito, e o setor corporativo também está com um crescimento bem acelerado.”
As vendas da CVC (e de todo o mercado de turismo) ainda estão abaixo dos níveis pré-pandemia — mas o gap está fechando. No segundo tri, as vendas de destinos nacionais foram 78% dos níveis pré-covid, enquanto os destinos internacionais chegaram a 68%.
Apesar da melhora operacional, a grande preocupação do mercado é com a estrutura de capital da CVC. A companhia tem uma dívida bruta de cerca de R$ 1 bilhão.
A dúvida é se a companhia precisará fazer um novo aumento de capital, diluindo mais uma vez sua base acionária, ou se vai buscar um reperfilamento da dívida com os bancos. (A companhia levantou R$ 400 milhões há pouco mais de um mês numa oferta de ações).
“A hipótese de um follow-on é a menos provável,” o CEO Leonel Andrade disse ao Brazil Journal. “Uma dívida líquida de R$ 400 milhões para o tamanho da companhia, e com um mercado crescendo, me parece razoável.”
Com a demanda voltando – e aumentando a necessidade de capital de giro – o mais lógico seria a CVC buscar um reperfilamento da dívida, até porque os vencimentos são concentrados no ano que vem. A companhia tem R$ 670 milhões vencendo no segundo tri de 2023 – e vencimentos de apenas R$ 100 milhões/ano em 2024 e 2025.
“Isso vai ser endereçado em breve,” disse Leonel.
O take rate (a comissão que a CVC ganha em cima das reservas consumidas) caiu de 8,3% um ano atrás para 7,6% no segundo tri.
A redução teve a ver com o aumento da participação do B2B na receita (agências pequenas e médias usando a plataforma da CVC para fazer suas vendas) e da Argentina, um mercado onde 70% das vendas vêm de bookings internacionais e que representou 25% das vendas da CVC neste trimestre. Ambas têm um take rate menor do que a venda B2C feita nas agências da CVC.
Leonel disse que a participação do B2B vai continuar crescendo, mas que a companhia trabalha sempre para tentar melhorar o take rate de todos os negócios. “Não vejo risco dele cair [olhando para frente], mas ele não deve voltar a subir já no curto prazo,” disse o CEO. “Temos o maior take rate do mercado.”
No trimestre, o EBITDA da CVC ficou praticamente no zero a zero, mas, conforme as vendas continuem crescendo, a expectativa é que o número melhore.
“Temos custos fixos e uma operação com uma margem boa, então tudo que eu cresço gera uma alavancagem operacional enorme,” disse o CEO.
A CVC também prevê ganhos de produtividade significativos quando suas plataformas de front office – para reservas de hotel, vôo e carros – forem unificadas em outubro.
O bottom line da CVC, no entanto, ainda deve continuar vermelho por um bom tempo — por uma questão contábil.
Neste e no próximo ano, a empresa está fazendo amortizações de ágio que somam mais de R$ 200 milhões/ano, além do serviço da dívida com a Selic mais gorda.
Em 2024, as amortizações de ágio cairão para menos de R$ 50 milhões, passando a favorecer a companhia.