A volta da pandemia já está criando gargalos na China.

O país corre o risco de sofrer com uma falta generalizada de energia —  que pode afetar desde fábricas e escritórios até o abastecimento dos postes de luz das cidades. 

Segundo a Bloomberg, já faltou energia em algumas províncias do país durante os horários de pico, e a previsão é que em breve duas delas tenham apagões duradouros. 

O motivo é simples: enquanto a maioria dos países ainda sofre com o lockdown, a economia chinesa já está a pleno vapor — o que aumentou a dependência do mundo todo em relação às fábricas chinesas.  

Em novembro, as exportações chinesas atingiram o maior nível de sua história, e o consumo de energia subiu quase 10% — a maior alta mensal dos últimos dois anos. 

O clima mais frio que o normal neste fim de ano piorou ainda mais a situação: os chineses começaram a usar mais os aquecedores de casa ao mesmo tempo em que o gelo prejudicou a infraestrutura das linhas de transmissão e distribuição. 

E o problema está sendo agravado também pela oferta reduzida de carvão, a fonte de energia com maior participação na matriz energética chinesa. Recentemente, Beijing limitou as importações para favorecer as mineradoras locais e constrangeu as compras da Austrália por causa de uma rusga diplomática (já viram esse filme antes?). Pra completar o quadro: acidentes com mineradoras locais obrigaram ao fechamento temporário de minas.

A situação já acendeu um sinal de alerta nas autoridades chinesas. 

Segundo a Bloomberg, alguns governos locais começaram a cortar a energia de clientes industriais e comerciais, empresas estatais estão enviando funcionários para inspecionar linhas de transmissão, e autoridades federais começaram a pedir às mineradoras de carvão que aumentem sua produção para suprir a demanda. 

Enquanto isso no Brasil, um cenário semelhante começa a se desenhar. 

Adriano Pires — um dos maiores especialistas em energia do Brasil — disse numa entrevista ao UOL que um crescimento econômico expressivo no ano que vem pode vir acompanhado de um apagão elétrico. 

“Uma crise energética em 2021 está nas mãos de São Pedro e da vacina, disse Adriano.

Segundo ele, a matriz energética brasileira — altamente dependente das hidrelétricas — não terá condições de fornecer a energia necessária para suportar a retomada da economia, a não ser que as chuvas dos primeiros meses venham acima da média histórica.

“A retomada do crescimento econômico mais cedo do que o esperado, somado à falta de chuva, acendeu o sinal amarelo no setor.

No pior cenário, segundo Adriano, o governo terá que pedir às indústrias que reduzam suas atividades.

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Numa outra notícia envolvendo as dificuldades da vida na China, a CNN reportou hoje que a jornalista chinesa Zhang Zhan, uma das primeiras a noticiar o surto de covid-19 em Wuhan, foi condenada a quatro anos de prisão por “incitar brigas e causar problemas,” uma tipificação comumente usada pela ditadura chinesa para incriminar dissidentes políticos e ativistas dos direitos humanos.  

Por mais de três meses, Zhang viajou pela China documentando a vida em confinamento e as dificuldades enfrentadas pelos chineses — dos hospitais lotados às lojas vazias.

Como sempre, regimes autoritários preferem matar o mensageiro — ou encarcerá-lo.