As ações da BRF — dona das marcas Sadia e Perdigão — caíram mais 3% nesta terça, o terceiro dia de queda consecutiva.
A queda no valor de mercado da empresa já chega a quase 20% desde que a companhia reportou, junto com seus resultados do terceiro trimestre, suas piores margens nos últimos quatro anos.
Mas o que é mais significativo: a queda de hoje acontece apesar da empresa ter anunciado esta manhã um aumento do seu programa de recompra de ações, o que, tipicamente, deveria ajudar a ação.
No mercado, esta recompra turbinada foi interpretada como um foco excessivo do conselho de administração da empresa no preço da ação no curto prazo.
Em 29 de outubro, junto com o resultado trimestral fraco, a BRF anunciou um programa de recompra de 15 milhões de ações. Ontem à noite, o conselho resolveu aumentar a recompra para 23 milhões de ações. (Assumindo por hipótese um preço de 54 reais por ação, a BRF gastaria 1,2 bilhão de reais recomprando suas ações nos próximos 12 meses. A empresa vale 47 bilhões de reais na Bovespa.)
CEOs e CFOs tipicamente anunciam recompras de ações ou para sinalizar ao mercado que sua empresa está subavaliada na Bolsa, ou porque não encontram novos projetos com retorno superior ao da companhia.
Mas quando uma empresa erra na dose, a recompra pode ter o efeito contrário. “O custo de dívida no Brasil está caríssimo, e eles estão gastando esse dinheiro todo pra recompra,” reclamou um gestor.
No mês passado, um outro programa de recompra já havia criado desconforto entre gestores que acompanham a empresa. Em 28 de agosto, a BRF anunciou uma recompra com prazo de seis meses. Mas em 6 de outubro, menos de 40 dias depois, a empresa informou que já tinha atingido a meta: recomprou 1,7% do capital ao preço médio de 69,80 reais. Por eliminação, o mercado concluiu que o vendedor durante o período foi o fundo de pensão Petros, um dos três maiores acionistas da BRF. (Meses antes, a Petros sondara o mercado para vender um grande bloco de ações, mas suspendeu a operação depois que o plano vazou. )
Além da recompra, alguns gestores deram outro motivo para a fraqueza da ação: eles prevêem que a greve dos caminhoneiros vai afetar a logística e os custos da companhia.
“Eles já tiveram esse problema no primeiro trimestre de 2015 e isso teve impacto nas margens,” diz um gestor.
Por enquanto, a greve atual parece menor que a do início do ano. As principais intervenções nas estradas estão acontecendo no Paraná, mas o Sul do País — a zona produtora de frangos e suínos — já está sendo impactado.