O banco digital alemão N26 tem passado dias difíceis no Brasil. Após demitir cerca de 15% de sua força de trabalho – 20 pessoas – passaram a circular notícias de que a empresa poderia estar de saída no Brasil.

O CEO da operação brasileira, Eduardo Prota, disse ao Brazil Journal que o ajuste é algo normal no atual momento do mercado, mas nega que ele represente alguma decisão mais dramática do banco.

“Mas a nossa estratégia mudou. Antes, o foco era o crescimento e agora é na conversão de usuários que usem o N26 como primeira conta,” disse Eduardo.

O N26 estreou no Brasil no fim de 2021, dois anos depois do anúncio da sua chegada. O discurso era de escalar rápido o negócio – tanto que a ideia era chegar a 300 funcionários até o fim de 2022, um terço do patamar atual. 

No mundo, a ideia era saltar de 7 milhões de clientes para 100 milhões em um prazo não revelado.

De lá para cá, o negócio não cresceu tão rápido como o esperado. No fim de 2022, a empresa disse que tinha chegado a 8 milhões de clientes em 26 países. No Brasil, o Brazil Journal apurou que são 200 mil usuários na base do N26. 

Eduardo não confirma esse número, mas diz que o crescimento só não foi maior por causa da mudança estratégica. 

Hoje, segundo ele, existem 800 mil pessoas na fila de espera do aplicativo. Mas a ordem é ser mais seletivo: cerca de 3 mil novos clientes são aceitos por dia. 

Mais do que isso, o N26 quer ser rentável e se transformar na primeira conta dos usuários. Eduardo afirma que 20% dos clientes (40 mil) utilizam o N26 como o banco principal e que eles dão retorno para o banco.

E isso acontece, segundo ele, mesmo sem o N26 cobrar nenhuma taxa – o que permite à empresa crescer 40% por mês em receita. 

Ainda assim, o N26 está em busca de um investidor – tanto localmente quanto no exterior. O cenário, no entanto, não é dos melhores: além dos aportes terem despencado nos últimos anos com as taxas de juros subindo, os bancos digitais deixaram de ser a bola da vez como em outros tempos.

A matriz também está passando por tempos difíceis. 

Em abril, o Financial Times publicou que o Allianz SE, um dos principais acionistas do N26, queria vender uma parte de sua participação na fintech a um valuation de US$ 3 bilhões. 

Trata-se de um desconto de 68% em relação aos US$ 9 bilhões da última rodada realizada pelo banco no fim de 2021. 

Os downrounds não são exclusividade do N26: no mês passado, um investidor do Revolut — o banco digital inglês que entrou recentemente no Brasil — cortou em 40% o book value de sua posição na fintech. O próprio Nubank cai 31% desde o IPO, em dezembro de 2021. 

“Acho muito difícil um banco B2C conseguir levantar dinheiro como antes se não tiver alguma tecnologia bem diferente. Esses bancos têm pegado os clientes mais jovens – e os jovens não têm dinheiro,” disse um gestor de venture capital que acompanha fintechs. “Há fintechs de fora que desistiram de vir para cá também por causa da concorrência. Eles preferem México e até a Argentina.”

Eduardo acredita que o N26 tem esse diferencial, especialmente por causa da sua ferramenta Spaces – que permite a criação de contas diferentes para ajudar o usuário a economizar rendendo 100% do CDI.

Além disso, Eduardo diz que a empresa tem no roadmap de lançamentos para o Brasil produtos em investimentos, crédito pessoal e cripto.

Questionado se a entrada do N26 no Brasil foi no “fim da festa” dos bancos digitais, Eduardo diz que não.

“Chegamos na festa no momento em que ela está atingindo o pico e agora é o momento de aproveitar o aprendizado e erros para sermos muito mais eficientes,” disse. “Estimamos que 200 milhões de contas ainda serão abertas no Brasil em todo o mercado nos próximos anos.”