Com 180 mil metros quadrados de área construída — 100 mil só de alvenaria — a Arena MRV é um colosso que deixaria qualquer engenheiro orgulhoso.

O novo estádio do Atlético Mineiro — bancado por um grupo de empresários liderado por Rubens Menin — consumiu 21 mil peças de concreto, levou três anos para ser concluído e demandou quase R$ 1 bilhão em recursos, incluindo as contrapartidas para a Prefeitura de Belo Horizonte.

O resultado é uma das arenas mais modernas do Brasil, que usou como inspiração tudo o que deu certo no Allianz Parque, e aprendendo com seus erros.

A obra da Arena MRV economizou em alguns aspectos (como os acabamentos) para conseguir entregar outros diferenciais importantes. No topo de toda a área coberta do estádio, que abrange 90% dos assentos, foram colocadas telhas especiais, que garantem um isolamento acústico quase perfeito.

“Pode estar acontecendo um show de rock lá dentro que você não vai ouvir quase nada do lado de fora,” disse um engenheiro envolvido na obra. “A disposição do estádio também garante uma visibilidade perfeita em qualquer lugar que o torcedor estiver sentado.”

Newton SimõesRubens Menin está orgulhoso, mas o outro pai da criança é o empresário Newton Simões, controlador e chairman da Racional Engenharia, que executou toda a obra.

Desde que fundou a Racional em 1971, dois anos depois de se formar na POLI, Newton se guiou por três mandamentos: não atuar no setor público, não misturar investimentos de capital intensivo com seu negócio de serviço, e não tomar dívida — em hipótese alguma.

“Precisamos ser sólidos para dar confiabilidade ao cliente,” disse Newton. “E se precisarmos não crescer em algum momento para garantir essa solidez e perenidade, é isso que a gente vai fazer.”

Até agora, a postura mais conservadora tem se mostrado sábia – ainda mais num Brasil de Selic que não toma Ozempic.

Enquanto grandes construtoras e empreiteiras tiveram problemas justamente por atuar no setor público ou se alavancar demais, a Racional continuou crescendo, e cada vez com menos competição.

Hoje, a companhia é a líder do mercado privado de edificações, faturando mais de R$ 1 bilhão ano passado.

Em seu nicho, a Racional compete basicamente com a HTB, a antiga Hochtief, de origem alemã, e com a Método, que entrou em recuperação judicial recentemente por conta de uma sucessão de erros. Nos anos 80, a Método construiu e entrou de sócia do Hopi Hari e do Wet’n’Wild e, mais tarde, se endividou para investir com a Petrobras numa empresa de montagem industrial — que acabou indo pro buraco.

Outro concorrente que vem crescendo rápido é a Ribeiro Caram, que também já fatura R$ 1 bi.  “Nós nos espelhamos na Racional pelo seu nível de serviço,” Cezário Caram, o fundador da concorrente, disse ao Brazil Journal.

A Racional se especializou no que chama de “obras complexas.”

Foi ela que construiu, por exemplo, o edifício que abriga o acelerador SIRIUS, em Campinas, considerado um dos maiores e mais modernos do mundo. Ela também colocou de pé o Centro de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein, um edifício icônico no Morumbi desenhado pelo arquiteto israelense Moshe Safdie, o mesmo que fez o aeroporto de Telaviv, o Museu do Holocausto e o Marina Bay Sands em Singapura.

Agora, o mais novo projeto da Racional é a ampliação do MASP, uma obra orçada em R$ 160 milhões e com desafios enormes de engenharia, incluindo uma galeria subterrânea ligando o museu ao prédio adjacente, que está sendo completamente retrofitado.

“É uma demolição controlada, e uma engenharia super sofisticada,” disse André Simões, de 33 anos, o filho de Newton com a jornalista Sonia Racy, que assumiu como CEO há três anos.

André Simões“Demolimos parte da estrutura, mas chegou em determinado nível que tivemos que ir demolindo um pavimento sim, um não, porque o edifício final vai ter pé direito duplo para as exposições. Ao mesmo tempo, tivemos que fazer vários reforços metálicos numa estrutura que não conhecíamos.”

A Racional também acaba de ganhar um contrato para construir o que será o maior data center da América Latina, na região de Campinas.

O grande ativo da companhia é seu know-how.

Enquanto uma incorporadora precisa ter otimização de custos e escala para conseguir vender no varejo, e uma empreiteira precisa de capacidade de atendimento (com equipamentos e máquinas) para fazer grandes projetos, uma empresa como a Racional só precisa de conhecimento técnico e bons engenheiros.

A Racional começou operando apenas no setor industrial, que vivia um boom na época do ‘milagre brasileiro’. Mas ao longo do tempo, ampliou seu escopo de atuação entrando em shoppings, logística, hospitais, infraestrutura e data centers.

Essa diversificação da carteira deu à empresa estabilidade de receita – independente dos ciclos de mercado de cada setor – e veio muito a calhar.

O mercado de construção corporativa e industrial estagnou nos últimos 10 anos – sofrendo com Dilma, covid, inflação e juro alto. Os grandes projetos privados ficaram em standby, e o faturamento da Racional estacionou em mais ou menos R$ 1 bilhão por ano nos últimos dois anos –  um patamar que deve se repetir este ano.

Mas agora, o setor já sente uma retomada. Newton disse que o pipeline para 2024 já aponta um crescimento de pelo menos 20% sobre este ano.

Mesmo com toda a turbulência, o único ano em que o faturamento sofreu uma queda brusca foi em 2020, por motivos óbvios: com as obras paralisadas pela covid, a receita caiu para R$ 500 milhões, em comparação aos R$ 750 milhões do ano anterior.

Newton disse que, no próximo ciclo, o plano da companhia é fazer mais do mesmo. A Racional não pretende entrar em outros nichos de mercado, não vê sentido num aporte de private equity ou num IPO — “que traria a pressão do crescimento a qualquer custo” — tampouco tem planos de fazer um M&A transformacional.

“O que poderia fazer sentido pra gente é uma parceria com alguma empresa de outra região do Brasil onde não conseguimos ter uma relação de confiança com os clientes de lá por ter uma lógica mais local,” disse André. “Pensamos numa relação em que esse time virasse nosso sócio e ajudasse na originação local, ao mesmo tempo que usufruísse do que já temos hoje.”