Os mercados precificam o recuo da inflação para o patamar entre 2% e 3% nas principais economias do mundo, e existem diversos indicadores de que os preços globais ficarão sob controle, como o recuo nos preços das commodities e da energia.
Mas ainda há “forças inflacionárias poderosas em ação,” diz Louis-Vincent Gave, o CEO da consultoria Gavekal, num relatório divulgado na quarta.
Gave lembra que as políticas fiscais seguem altamente expansivas no mundo ocidental, particularmente nos EUA, e o excesso de liquidez dos últimos anos não foi completamente digerido.
“Os mercados de trabalho nas principais economias do mundo se mantêm apertados,” diz Gave.
Ainda no lado das pressões inflacionárias, ele cita o aumento no preço dos semicondutores, em meio ao boom dos investimentos em inteligência artificial e veículos elétricos.
Por fim, o crescimento da economia global continua “resiliente, em especial nos mercados emergentes. Resumindo, estamos vendo um verdadeiro cabo-de-guerra.”
Gave lista alguns fatores que podem fazer com que essa disputa de forças se desequilibre para um lado ou para o outro.
Nos riscos para o aumento da inflação, ele cita, por exemplo, os possíveis efeitos do El Niño e uma eventual nova diminuição nas exportações de energia e alimentos da Rússia e da Ucrânia.
Além disso, Gave menciona a ameaça de problemas no transporte marítimo internacional. O Canal do Panamá impôs restrições ao fluxo de navios, em razão do baixo nível da água após uma primavera pouco chuvosa. Isso poderá dar força ao movimento grevista nas docas da costa oeste dos EUA.
Já no front deflacionário, Gave cita a redução das tensões no Oriente Médio, esfriando a ameaça de um escalonamento dos conflitos entre a Arábia Saudita e o Irã.
Outros pontos favoráveis, do ponto de vista dos preços, são o enfraquecimento das moedas asiáticas e a desaceleração da economia americana – embora a possibilidade de recessão tenha diminuído.
Para Gave, pode ter sido exagerado o temor de que haveria uma alta da inflação por causa dos custos com energia.
“Tendo em vista os recentes acontecimentos na geopolítica e no clima, notadamente a guerra na Ucrânia e o El Niño, os maiores riscos parecem ser os preços do frete marítimo, deslocamentos nas cadeias de produção e aumento nos preços dos alimentos,” conclui Gave.