As mulheres representam 58% dos alunos de universidades, mas, quando vão para a Faria Lima, a porta é bem mais estreita. 

Elas são menos de 3% dos conselhos das empresas, 4% dos CEOs e ocupam apenas 13% dos cargos de primeiro escalão das 500 maiores empresas do Brasil.

A desigualdade gritante chamou a atenção de Julia Borges e Carolina Cavenaghi, que acham que o problema tem solução — e ela não é tão complicada assim. 

As duas — que trabalham há anos no mercado — criaram o FIN4SHE (pronúncia: fin-for-she), um movimento para aumentar a presença de mulheres no mercado atacando três gargalos: atração, retenção e ascensão.

“São três problemas que andam juntos como uma bola de neve”, diz Julia, que é do time de relações com investidores da Constellation. “Se você não tem atração, não existe ascensão. Ao mesmo tempo, se não há mulheres em cargos de liderança é muito difícil atrair mulheres jovens, porque elas não têm em quem se espelhar.”

Para ilustrar o problema: a maioria das empresas não consegue chegar sequer a 10% de currículos femininos em seus processos seletivos.

A boa notícia é que com pequenos ajustes isso pode mudar. 

Julia passou os últimos meses analisando empresas no exterior que conseguiram aumentar a diversidade de gênero e reuniu suas conclusões numa cartilha com seis políticas concretas.

“São coisas muito simples, que não demandam investimento… só algumas mudanças na cultura e na forma de conduzir o recrutamento,” diz ela. “Uma coisa muito importante, por exemplo, é a linguagem na descrição das vagas e a presença de mulheres nas entrevistas e nos eventos de recrutamento.”

Outra recomendação: só começar o processo seletivo quando 30% dos currículos forem de mulheres — mesmo que para isso a empresa tenha que ir atrás de candidatas ativamente. 

“Não achamos que tem que ter cotas, mas precisamos aumentar as probabilidades e para isso precisamos ter mais candidatas mulheres,” diz Carolina, que trabalhou dez anos na Franklin Templeton. “No começo, a empresa vai ter que buscar ativamente, mas com o tempo isso vai ficando cada vez mais orgânico.”

A FIN4SHE está organizando o Young Women Summit, um evento gratuito nesta quinta-feira para ajudar jovens mulheres a encontrar seu primeiro emprego no mercado. A ideia é criar um banco de currículos, que poderá ser acessado por empresas.

Os patrocinadores do evento são: Anbima, BR Partners, BTG, Franklin Templeton, Pandhora, Wright Capital e XP. (A CFA Society Brazil apoia o evento).

Para quem ainda acha que falta interesse da parte delas, mais de 1,2 mil estudantes mulheres já cadastraram seu currículo. 

A FIN4SHE também criou o Women Empowerment Program, um programa de mentoria que oferece aulas gratuitas para mulheres em diferentes fases da carreira, e está tentando fomentar o networking entre elas.

“Nos Estados Unidos, boa parte das empresas já resolveu a questão da atração e está discutindo como aumentar a retenção e ascensão,” diz Julia. “Aqui, ainda estamos debatendo se é benéfico ou não ter diversidade nas empresas…”