Como um investidor internacional vê o Brasil

 

A coluna transcreve abaixo uma conversa com um investidor de um grande hedge fund americano baseado em Nova York.

O fundo investe tanto nos EUA quanto em países emergentes, e este executivo acompanha o Brasil há muitos anos.

A conversa mostra as variáveis que estão em jogo hoje, quando os gestores internacionais têm que tomar a decisão de investir ou não em nossas empresas, moeda e crédito.

O dono da opinião abaixo só ganha dinheiro se fizer apostas certas, é obrigado a fazer contas todos os dias, tem um distanciamento saudável por não morar aqui, e sempre trabalha comparando o Brasil com outros países.

Pode-se discordar da opinião deste investidor. Pode-se achar que ela é superficial em alguns pontos, ou pessimista em outros.

Só não se pode ignorá-la.

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VEJA MERCADOS: Para onde o câmbio está indo?

O câmbio ‘certo’ é aquele que equilibra a conta corrente, e a conta corrente tem dois elementos: a balança comercial e o fluxo de capitais. Só que o capital depende de confiança… Se a confiança evaporar, o câmbio de equilíbrio vai junto; se a confiança se mantem, o câmbio se mantem…

Ainda existe confiança no Brasil, confiança de que existe um plano para reverter os erros do passado e não explodir a coisa toda. Esse plano é muito ilustrado pelo Levy, mas não é só o Levy. O arcabouço institucional brasileiro é bem melhor que a média: Rússia, Índia, etc.

Os caras em Brasilia têm um plano, mas tá todo mundo na dúvida se esse plano vai dar certo… Se não voltar o investimento, e se o PIB não voltar a crescer, esse plano vai para o saco. Aí pode haver uma resposta populista.

O plano pode dar errado porque esse mix de austeridade pode ser forte demais e matar a galinha.

A política pode explodir na sua mão: pode acontecer alguma coisa maluca… Antes de cair, a Dilma pode mandar o Levy embora.

Imagina que tenha uma crise global de mercados emergentes, um ‘flight to quality’ [busca generalizada por ativos sem risco], aí o Brasil vai pro saco porque o câmbio se desvaloriza.

Resumindo, há múltiplas maneiras do Brasil dar errado, e poucas maneiras do plano atual dar certo.

Se os juros só começarem a cair em 2017, aí f%$## .. É muito tempo para os políticos esperarem.. O político, no final, quer ser eleito, ele quer ficar no poder.. se ele não puder ficar no poder, ele vai continuar fazendo o ajuste??? Se ele não vai ficar?

Austeridade só funciona como medida de curto prazo… Você não pega um País indisciplinado e diz, “Faz austeridade aí por cinco anos”…. Junto com a austeridade, você tem que ter a volta do investimento, e isso talvez só aconteça com reformas bem mais profundas.

Se você matar a galinha, ninguém come.

 

VEJA Mercados: Você está comprado em alguma coisa no Brasil?

Comprei títulos de dívida da Petrobrás em dólares… [uma aposta de que o Governo não deixaria a empresa ficar inadimplente].

Também comprei Kroton a 10 reais por ação… A gente tem olhado situações específicas de boas empresas passando por momentos dramáticos [como foi a mudança nas regras do FIES] e o mercado ‘overreacting’… Mas de maneira geral, o mercado brasileiro de ações não está barato. Você tem que se lembrar que eu posso comprar renda fixa no Brasil [que paga 13,75% ao ano, menos os custos de transação e os impostos].

 

VEJA Mercados: Vocês estão achando que a política está chegando a um ponto de inflexão?

É uma perda de tempo você querer prever a política.

Que a situação é meio instável, é.

O impeachment da Dilma e o Lula indo para a cadeia seria algo bom? No curto prazo seria uma lambança geral, porque esses caras vão cair fazendo lambança… E isso é o quê? Ir para a esquerda radical, falar que tudo é um ‘complô da direita’…

Você tem que pensar no Brasil como uma empresa. A qualidade do ‘management’ é horrorosa…. Tivemos umas melhoras na Fazenda e na Petrobras, mas não dá pra esses caras trabalharem sozinhos.

A qualidade do Congresso é medonha! A única coisa boa é que é um Congresso que não quer perder poder, então não deixa o Executivo passar por cima. Mas isso é um detalhe no quadro que está aí.