A Gavekal disse que o Brasil foi o “mercado mais desapontador do mundo” em 2024 — mas disse que há tantas más notícias já precificadas que é difícil a situação piorar ainda mais.

Para a firma de análise macroeconômica global, para o cenário piorar o Brasil teria que entrar numa grave crise constitucional ou política, o que não é o cenário-base da empresa.

Numa análise enviada a clientes, a Gavekal disse que o sentimento de decepção é palpável na Faria Lima — e que a culpa é do Presidente Lula. 

“A percepção geral é que a política fiscal excessivamente expansiva do presidente levou tanto a moeda brasileira quanto o mercado de juros a uma correção. E com o real caindo e os yields subindo, só há uma direção para o mercado de ações brasileiro,” diz a Gavekal.

A casa de research notou ainda que a situação levou os títulos de inflação do governo a pagarem um retorno real de impressionantes 7,7%.

A boa notícia?

As coisas estão tão ruins que qualquer inversão de expectativas pode levar a um rali dos ativos. E essa inversão pode ocorrer com a proximidade das eleições.

“A próxima eleição brasileira é em outubro de 2026. Isso significa que no final deste ano os mercados vão começar a refletir as expectativas dos investidores sobre quem será o próximo presidente,” diz o relatório. “Parece provável que Lula — com uma saúde fraca, idade avançada e números fracos nas pesquisas — não vá concorrer. Então, é possível que os mercados comecem a precificar uma mudança para a direita na política brasileira.”

A Gavekal acrescenta que isso não será suficiente para curar todos os problemas do Brasil, que vão de regulações excessivas e aposentadorias generosas para os funcionários públicos até um sistema tributário arcaico e complicado construído ao redor de subsídios.

“Mas os Estados Unidos foram capazes de crescer com desafios semelhantes, então, por que não o Brasil?” diz a Gavekal.

“Obviamente, o Brasil vai continuar dependente do ambiente global de commodities. Mas com 2025 entrando com os preços de energia firmes e a China continuando a sinalizar sua determinação de acelerar o crescimento econômico, parece improvável um colapso das commodities.”

A Gavekal nota ainda que as ações brasileiras estão extremamente subavaliadas, com a maioria das empresas negociando a um múltiplo preço/lucro de um dígito e entregando um dividend yield de dois dígitos . 

“Mas é difícil acreditar que as ações vão ter uma performance forte com as taxas de juros altas como estão. Em resumo, o case positivo para as ações brasileiras é que 2025 comece a ver ou uma melhora no ambiente político doméstico ou um bull market de commodities ou um enfraquecimento do dólar — ou os três juntos.”

“Por outro lado, o argumento bearish é que o dólar americano pode continuar a se fortalecer, quebrando as coisas pelo caminho — como o crescimento global e as commodities — ou simplesmente que a situação política brasileira continue indo de ruim para pior.”