O Brasil perdeu precocemente, esta madrugada, um dos seus grandes advogados: Ricardo Cholbi Tepedino. Eu perdi um amigo de mais de 40 anos.
Tepedino formou-se pela UERJ, mas sua escola de advocacia foi a forja de Sérgio Bermudes. Mais tarde, deixou o mentor para abrir firma própria em São Paulo.
Dotado de uma inteligência invulgar, entendia de tudo. Além da cultura jurídica, possuía o que se chamava antigamente de “cultura geral” – música, artes plásticas, literatura – além de ser um cidadão do mundo.
Os amigos brincávamos que ele era um personagem do século XIX, um tipo humano que não se encontra mais.
Aliás, isso se diga em relação ao seu estilo de advocacia. Corajoso, preparado e capaz de adaptar suas estratégias às circunstâncias da causa. Não perdia um debate, tinha sempre uma boa resposta, uma ironia fina e ácida e uma memória irritantemente absoluta. Lembrava-se dos mínimos detalhes de fatos ocorridos há dezenas de anos. Não tinha medo de nada.
Num episódio no início dos anos 80, quando fez parte do Conselho Universitário da UERJ na condição de representante dos estudantes, aos 20 anos de idade, enfrentou aqueles antigos dirigentes universitários pouco acostumados a debater e a ser inquiridos por alunos. Foi chamado de “moleque” e “pirralho” – ele contava com detalhes sórdidos e absolutamente fidedignos – por um daqueles “velhos”. Tepedino não se fez de rogado e processou o ofensor. O acordo terminou num pedido público de desculpas e no respeito dos “anciãos” por aquele jovem com maneiras antigas e boa retórica. Ele acabou perdoando e se tornando amigo do ofensor.
Com Tepedino morre uma advocacia que não se vê mais.
Como bom descendente de italianos, era dramático e encantava pessoalmente os clientes, com quem costumeiramente construía uma amizade. Os mais polêmicos não recebiam uma crítica na sua frente sem que fossem prontamente defendidos, mesmo nas conversas entre amigos.
Já os adversários temiam sua acidez e respostas-relâmpago, e era frequente ver a parte que ele derrotara contratando-o mais adiante para não ter mais dissabores.
Nosso último almoço terminou na hora dele correr para o próximo jantar. As conversas nunca tinham fim. Tepedino gostava da vida e do convívio social. Ninguém escapava de suas observações cirúrgicas e impagáveis.
Além de um profissional brilhante e respeitado, foi professor de Direito, conselheiro da OAB e conselheiro de empresas.
Fico com a imagem de nossa última foto juntos, na casa da nossa colega dos tempos de UERJ, Ilcelene Bottari. Uma gargalhada desabrida própria de quem está entre os seus.
Vá em paz, meu querido amigo Ricardo.