Alysson Paolinelli, que como ministro da Agricultura foi um dos grandes responsáveis pelo desenvolvimento do agronegócio no Brasil, morreu hoje após complicações decorrentes de uma cirurgia no fêmur.

Ele tinha 86 anos.

Mesmo com a idade avançada, Paolinelli ainda presidia a Associação Brasileira dos Produtores de Milho e seguia ativo nos debates sobre o futuro da agricultura no País.

Muitos no agronegócio descrevem Paolinelli como um “pai” para a agricultura brasileira e tropical e um dos maiores defensores da segurança alimentar no Brasil.

Não por acaso, o ex-ministro foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz em 2021 e em 2022 por suas contribuições para a alimentação do Brasil e do mundo. A indicação foi encabeçada pelo ex-ministro Roberto Rodrigues e pela Esalq, e obteve o apoio de 119 instituições de 24 países.

“Era um homem incansável e devemos a ele todo o desenvolvimento da agricultura e do Brasil. Não era só um sonhador:  era atuante e muito confiante no futuro do País,” disse Rodrigues, seu amigo de uma vida.

Para entender o protagonismo de Paolinelli, é necessário voltar mais de 50 anos no tempo.

Após três anos como secretário de Agricultura de Minas Gerais – quando transformou o estado no maior produtor de café no Brasil – Paolinelli foi convidado pelo general Ernesto Geisel para se tornar ministro da Agricultura em 1974.

Mas Paolinelli sabia que o agronegócio não se desenvolveria sem ter a ciência ao lado. Por isso, passou a custear bolsas de estudos para estudantes brasileiros nos maiores centros de pesquisa do mundo.

Era o empurrão que a Embrapa, fundada apenas dois antes, precisava para se transformar na potência que é hoje. Foi no seu mandato como ministro que houve a criação dos primeiros centros de pesquisa nacionais por produtos, como trigo, arroz, feijão e gado de corte.

Mas o grande ponto de partida, definido pelo próprio Paolinelli, foi a reabilitação integral dos solos inférteis do Cerrado, um bioma do qual os agricultores queriam distância.

Foi sua investida que permitiu que a região passasse a produzir soja, milho, algodão, carne e leite.

Para que isso fosse possível, foram empregadas técnicas como a plantação integrada – em um primeiro momento a cultura, depois, a pastagem. Desta maneira, o solo fica protegido, o que permite sua recuperação biológica.

Foi uma revolução agrícola que tornou o Centro-Oeste uma das mais importantes regiões produtoras do mundo.

“A combinação de atividades que existe no Centro-Oeste hoje começa com o Paolinelli. E essa revolução que ele traz combina economias de escala e de escopo,” disse Marcos Jank, professor e coordenador de Agro Global no Insper.

Os avanços impactaram rapidamente a balança comercial. Dos anos 70 aos 80, o Brasil passou de importador de alimentos básicos a grande exportador – chegando a US$ 159 bilhões em 2022. Hoje, o País alimenta 1 bilhão de pessoas em mais de 200 países.

Mas Paolinelli sabia que ainda há muito a ser feito. Em entrevistas recentes, afirmou que “não há paz, não há forma de bom relacionamento a quem está com a barriga vazia”.

Ele defendia a criação de um pacto alimentar global, calcado na formulação e defesa de políticas públicas para desenvolver a agricultura.

Em entrevista ao Valor em 2021, afirmou que era possível dobrar a produção de alimentos até 2050 sem desmatamento.

“Já sabemos fazer. É usar uma tecnologia nacional, a gestão integrada, que produz mais alimentos com menor uso de terras e é carbono neutro. É o que a humanidade espera de nós,” disse.

Alysson Paolinelli nasceu em Bambuí, no interior de Minas Gerais, em 10 de julho de 1936, filho de um engenheiro agrônomo e de uma professora.

Seguindo os passos do pai, formou-se engenheiro agrônomo pela Universidade Federal de Lavras – um dos melhores da turma. Logo depois, foi convidado a lecionar na universidade.

Em 1971, com apenas 35 anos, tornou-se o secretário de agricultura de Minas. Também presidiu o Banco do Estado de Minas Gerais e a Confederação Nacional da Agricultura antes de eleger-se deputado constituinte em 1986 pelo então PFL.

Sempre foi um otimista inveterado.  Segundo pessoas próximas, em seus últimos dias no hospital ainda conversava e aconselhava os amigos sobre os temas mais importantes do País.

“Fomos bem-sucedidos no passado. Mais uma vez o seremos. Basta testar,” escreveu em um artigo recente para o site da Embrapa.

Paolinelli deixa a mulher Marisa e cinco filhos.