Quando era dono de uma franquia do Carrefour Express na Espanha, Lucas Infante se deparou com um problema que tirava seu sono toda noite: o desperdício brutal de alimentos.

“Eu toquei o negócio antes, durante e depois da pandemia – quando eu era o único estabelecimento aberto do bairro – e vi que, independente da circunstância ou do fluxo, sempre havia desperdício, e isso acontecia por uma questão de controle de vendas e falta de previsibilidade,” Lucas disse ao Brazil Journal. 

boopo lucas infanteEssa experiência foi a ignição para Lucas e seu sócio Murilo Ambrogi fundarem a Food To Save, um marketplace que conecta consumidores com estabelecimentos que têm produtos próximos ao vencimento ou que não foram consumidos no dia. Os outros dois sócios são Fernando dos Reis (o COO), e Guido Bruzadin (o CTO). 

No app, o consumidor consegue comprar uma ‘sacola surpresa’ de estabelecimentos como a padaria Dona Deôla, a rede de hortifrutis Natural da Terra e os hotéis Ibis. Os descontos chegam a 70%. 

O marketplace já tem mais de 4 mil estabelecimentos e 2 milhões de consumidores cadastrados, que devem movimentar perto de R$ 50 milhões este ano. (A receita da startup é um take rate em cima dessas vendas, pouco mais de 10%). 

Agora, a Food To Save acaba de levantar uma rodada para escalar a plataforma, entrando em novas cidades e conquistando novos usuários nos mercados onde já opera. 

A captação, de R$ 14 milhões, foi liderada pela DSK Capital e teve a participação das gestoras Spectra e HiPartners.

Também participaram investidores-anjo como João Galassi (o presidente da Associação Brasileira de Supermercados); Paulo Camargo (ex-presidente do McDonald’s no Brasil e atual CEO da EspaçoLaser); e João Branco (ex-vp de marketing do McDonald’s Brasil).

A Food To Save está atacando um problema superlativo.

No mundo, um terço de todo alimento produzido vai para o lixo. Para se ter uma ideia, só no Brasil são jogadas fora 40 mil toneladas de alimentos todos os dias (30 milhões por ano). 

“Globalmente estamos falando de um mercado potencial de US$ 700 bilhões,” disse Lucas. “No Brasil, são US$ 40 bilhões.”

Como a Food To Save atua na etapa final da cadeia, evitando o desperdício dos varejistas, seu mercado endereçável é menor, de cerca de US$ 5 bilhões. 

Para Lucas, o maior desafio para o crescimento da plataforma é cultural. Segundo ele, a ideia de que ‘é melhor sobrar do que faltar’ é algo muito enraizado na cultura do Brasil. “Tem essa barreira forte, que é mostrar para o consumidor o benefício de evitar o desperdício,” disse o fundador. 

Com a rodada, a Food To Save vai ampliar seu time para sustentar o crescimento da plataforma nos próximos anos. Lucas disse que o modelo da startup é muito escalável e replicável, e que a ideia da Food To Save é consolidar as 20 cidades onde já está presente, incluindo São Paulo, Rio, Brasília e Belo Horizonte, bem como entrar em novos mercados.

A Food To Save é uma das poucas sobreviventes de um mercado com uma alta taxa de mortalidade. Nos últimos anos, nasceram e morreram startups com a mesma proposta: a EcoFood, que operava em Maringá; a Bom App, que era focada no Rio de Janeiro; e a FoodHero, que tinha uma atuação nacional.

Segundo Lucas, essas startups sofreram com um misto de problemas de execução e falta de capital, que dificultaram escalar suas plataformas, algo fundamental para o modelo de negócios. 

“Mas nosso modelo é resiliente. Já conseguimos uma escala interessante e temos muitos parceiros estratégicos conhecidos que geram interesse para o consumidor.”