A Rede Mater Dei está comprando o Santa Genoveva — um dos hospitais mais tradicionais de Uberlândia — numa transação que coloca a empresa mineira na fronteira do Centro-Oeste, um eixo onde a rede pretende avançar.

A compra inclui um elemento crucial: um centro diagnóstico acoplado ao hospital que hoje captura boa parte do ‘economics’ do negócio, além do imóvel de 10 mil metros quadrados no bairro Martins, no coração da cidade.

10632 3d13ef0b f228 cc08 8ac7 6f1274b0f076O Mater Dei vai pagar R$ 309 milhões pelos ativos, incluindo a assunção de dívidas da ordem de R$ 56 milhões. A transação — que será paga em dinheiro — implica um múltiplo de R$ 1,5 milhão/leito.

Uberlândia é o segundo maior PIB de Minas Gerais e uma das cidades que mais cresce no País. “É uma localização muito estratégica porque é uma porta de entrada para o agronegócio brasileiro,” Henrique Salvador, o CEO do Mater Dei, disse ao Brazil Journal.

Este é o terceiro M&A do Mater Dei desde o IPO, quando a rede da família Salvador levantou R$ 1,4 bilhão para começar seu movimento de consolidação. De lá pra cá, a companhia comprou o Grupo Porto Dias por R$ 800 milhões e investiu na A3Data, uma empresa de big data.

As negociações com o Santa Genoveva duraram mais de um ano e exigiram o tal ‘jeitinho mineiro’: o Mater Dei teve que negociar com 215 médicos que tinham participação no hospital e com 10 radiologistas que controlavam o Centro Diagnóstico por Imagem (CDI).

O Santa Genoveva tem capacidade para 204 leitos, dos quais 156 já estão operacionais, 30 dos quais são leitos de UTI. O hospital fatura R$ 160 milhões/ano mas, em virtude da governança que vigorou até hoje, tem EBITDA próximo de zero.

“Cada parte do hospital estava entregue a um grupo de sócios,” disse o CEO. “A cardiologia estava nas mãos de um grupo, a urologia com outro, e a parte de diagnósticos nas mãos de um terceiro.”

Na prática, isso significava que todos os exames de cardiologia, por exemplo, eram faturados no CNPJ dos sócios que tocavam a área, e não no CNPJ do hospital. (As receitas do Santa Genoveva vinham basicamente das diárias e das taxas dos centros cirúrgicos).

Essa falta de integração das operações é muito comum em alguns hospitais brasileiros: em vez de serem pensados como um negócio, muitos hospitais nasceram apenas para que os médicos da cidade pudessem ter um lugar para exercer a profissão.

Mas o modelo é antieconômico, e o Mater Dei viu uma oportunidade em mudar isso, integrando todas as áreas num único CNPJ — o que deve tornar o hospital rentável num curto espaço de tempo.

Hoje, a lucratividade do Santa Genoveva é apropriada basicamente pelo pelo centro diagnóstico, que faz receita de R$ 30 milhões com margem EBITDA de 28%.

Henrique estima que em até dois anos o hospital já esteja operando com margem EBITDA de 25% — próxima aos 30% do Mater Dei. Se a receita do hospital chegar a R$ 200 milhões ao final desse período, isso representaria um EBITDA adicional de R$ 50 milhões/ano.

A aquisição não altera a alavancagem do Mater Dei, que captou R$ 700 milhões com uma emissão de debêntures há duas semanas. No final do terceiro tri, a alavancagem da empresa estava em 1,5x (já incluindo a emissão da dívida), e a empresa ainda tinha um caixa residual do IPO.

O Mater Dei vale R$ 5,7 bilhões na B3.

Araújo Fontes assessorou o Mater Dei, que trabalhou com os advogados do Azevedo Sette.