A Granja Mantiqueira – a maior produtora de ovos da América do Sul – acaba de adquirir 100% da operação de ovos orgânicos da Fazenda da Toca, apostando que o futuro da avicultura será livre de gaiolas (e de agrotóxicos).
A aquisição envolve a marca e os ativos produtivos da Fazenda da Toca Orgânicos, bem como a operação de produção de grãos orgânicos da Rizoma Agro, incluindo as máquinas, silos e armazéns. (As terras serão arrendadas.)
As duas companhias pertencem a Pedro Paulo Diniz e foram criadas em sociedade com a Península Investimentos, o family office de Abílio Diniz, pai de Pedro. (A terra – 2.300 hectares em Itirapina, a 200 quilômetros de São Paulo – está na família desde os anos 70).
Para a Mantiqueira, a transação é uma forma de verticalizar seu negócio num nicho da avicultura de alto valor agregado e margens maiores.
A Mantiqueira já era cliente da Toca desde 2015, comprando os ovos orgânicos para revender com sua marca própria.
A transação é pequena para o tamanho da Mantiqueira: a Fazenda da Toca tem 360 mil galinhas, que botam 300 mil ovos por dia – o que já faz dela a maior produtora de ovos orgânicos da América Latina.
Já a Mantiqueira é dona de um exército de 14 milhões de galinhas, que botam mais de 10 milhões de ovos todos os dias. A companhia deve faturar R$ 1,4 bilhão este ano, uma alta de 35% em relação ao ano passado.
“A relevância dessa aquisição em termos de volume não é muito grande, mas em termos de marca e de posicionamento a importância é enorme,” o fundador da Mantiqueira, Leandro Pinto, disse ao Brazil Journal.
Para quem não é do ramo, os ovos orgânicos são aqueles produzidos por galinhas que vivem soltas e que são alimentadas apenas com grãos de matriz orgânica. Esses grãos são produzidos sem o uso de defensivos, o que faz com os ovos sejam mais saudáveis.
Pedro disse que a cadeia de grãos orgânicos sequestra carbono do meio ambiente.
“Medimos nosso sistema de produção e ele sequestra 2 toneladas de carbono por hectare,” disse ele. “Já uma produção normal de grão emite 5 toneladas por hectare. A grande diferença é o uso do adubo químico, que emite muito gás de efeito estufa.”
Naturalmente, os custos de produção dos orgânicos ainda são mais altos, o que prejudica a acessibilidade desses produtos – mas a ideia da Mantiqueira é justamente usar sua escala e as sinergias para tentar baratear o produto final.
“Era difícil para eles chegarem no Nordeste, por exemplo, porque você não consegue mandar os caminhões com 300 mil ovos. Agora, vamos mandar os ovos deles junto com os nossos,” disse Leandro.
A Mantiqueira também pretende expandir a produção de grãos orgânicos – que hoje é feita em São Paulo pela Rizoma Agro – para fazendas em todo o Brasil.
“Depois que dominarmos a cadeia do grão orgânico, depois que eles passarem essa expertise pra gente, nossa ideia é essa: esparramar a produção pelo País.”
Leandro disse que o objetivo é aumentar a produção de ovos orgânicos da Fazenda da Toca a uma taxa anual de “pelo menos” 30%.
“Essa é a taxa que eles já vinham crescendo. Se não fizermos pelo menos isso somos incompetentes,” disse Leandro. “É claro que com a base maior vai ficando mais difícil crescer nesse ritmo, mas com ganho de escala e as sinergias acho que vamos ter um crescimento exponencial.”
A aquisição de hoje é a mais ousada já feita pelo mineiro de Itanhandu que começou com uma granja alugada de 30 mil galinhas há mais de 30 anos. Os ovos se tornaram o negócio da família Pinto, que hoje tem oito granjas em cinco estados brasileiros. Este ano, a Mantiqueira já comprou granjas em Goiás e em Santa Catarina.
A RGS Partners assessorou a Fazenda da Toca, que usou legal advice do Pinheiro Neto.
A Mantiqueira trabalhou com o Vieira Rezende Advogados.
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