Em uma série de tweets repentinos, Mansueto de Almeida defendeu o ajuste fiscal do governo Temer e reclamou de expectativas irreais sobre a viabilidade política do ajuste.
Em tom de desabafo, o secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda disse que ”o legado de baixo crescimento de mais de 7 anos de política econômica desastrada não permite uma rápida recuperação da economia.’’
Mansueto desenhou em 140 caracteres os limites impostos pela conjuntura política a uma equipe econômica amplamente reconhecida por sua capacidade técnica.
Uma das maiores autoridades em contas públicas do País, Mansueto disse que “o debate fiscal está confuso e as sugestões de alguns para melhorar a meta do primário não tem viabilidade politica porque a população não quer.” (veja os tweets abaixo)
Mansueto disse que o ajuste fiscal de Temer é o primeiro que não será feito em cima de aumento de impostos.
Segundo ele, entre 1997 e 2002, o governo FHC aumentou contribuições e criou a CPMF. “O Governo fez mudanças estruturais importantes, mas o ajuste veio de carga tributária,” disse. Naquele período, segundo ele, o governo aumentou o superávit em dois pontos do PIB fazendo a arrecadação crescer o dobro da despesa.
Mansueto também abordou o ajuste feito no início do Governo Lula: “Qual foi o ajuste fiscal de 2003? Quase nenhum. Um esforço fiscal de 0,5% do PIB com queda de 50% do investimento e atraso de pagamentos. De 2002 a 2006, a despesa primária do governo central passou de 15,9% para 16,8% do PIB e a receita líquida de 18% para 18,8%. Não houve ajuste. No final do governo Lula 1, toda a economia fiscal de 2003 foi perdida nos anos seguintes e o primário voltou ao que era em 2002.”
“O ajuste fiscal precisa vir de cortes de despesas. Não podemos mais repetir a velha fórmula de aumentar carga tributária,” Mansueto tuitou, acrescentando que um ajuste pelo lado da despesa “será necessariamente gradual.”
“Mas é o que todo mundo quer”, completou.
Mansueto disse ao Brazil Journal que, há alguns dias, decidiu pegar todas as projeções de déficit primário feitas pelo mercado e se espantou com estimativas inexplicavelmente otimistas.
“Peguei o telefone e liguei para algumas pessoas e perguntei, ‘como vocês chegaram nesse número’?” disse.
A preocupação de Mansueto era óbvia: estimativas róseas para o buraco fiscal puxam a média para baixo e fazem a meta de déficit primário do Governo — que será definida nesta quinta de manhã — parecer incompetência.
“Um economista me disse que tinha botado no número que o Governo recriaria a CPMF e acabaria com a desoneração da folha, Eu disse, ‘mas nós não estamos fazendo isso.’ E ele: ‘vocês não estão falando mas vão fazer.’’ Meu Deus, o que é isso? Um outro me disse que o Governo acabaria com a vinculação do salário mínimo com a Previdência, o que muitos consideram uma cláusula pétrea da Constituição. Alguém acha que isso é possível?”
No Twitter, ele resumiu a arte do possível: “Não confiem em soluções mágicas. Os últimos que fizeram isso estão sendo investigados pelo TCU.”