A Maha — a companhia listada em Estocolmo que tem a gestora brasileira Starboard como acionista de referência — está trocando a velha economia pela nova. 

De uma companhia focada em petróleo, a Maha está se transformando numa fintech

Nos últimos meses, a empresa desinvestiu de todos os seus ativos de petróleo, incluindo sua participação de 5% na Brava Energia e os campos que tinha nos Estados Unidos.

Ao mesmo tempo, costurou uma transação com a Keo World, uma fintech americana de capital fechado que tem uma licença da American Express para atender grandes empresas em soluções de pagamento e financiamento. 

Pelos termos da transação, a Maha está se fundindo com Keo – um reverse IPO que listará a Keo na Bolsa de Estocolmo e dará à fintech acesso ao caixa líquido de US$ 105 milhões da Maha. 

A Keo Credit – o novo nome da empresa – também anunciou que vai iniciar o processo para uma listagem adicional na Nasdaq, buscando capturar os múltiplos maiores da Bolsa americana.

Também como parte da transação, investidores institucionais como a gestora britânica Hayfin Capital Management estão fazendo um aumento de capital de US$ 35 milhões na Keo, que está sendo avaliada em US$ 680 milhões. 

Após a operação, os acionistas da Keo vão ficar com 40% da companhia combinada, enquanto a Starboard terá cerca de 20% do capital. O CEO da nova empresa será o brasileiro Roberto Marchiori, um sócio da Starboard há nove anos. 

A Maha não abre os números da nova empresa, mas estima que quando ela estiver processando US$ 6 bilhões por ano (o que ela prevê que acontecerá em dois anos), a receita será de US$ 100 milhões a US$ 130 milhões, com um lucro líquido de US$ 40-60 milhões. 

Com esses números, a empresa poderia valer de US$ 2,2 bilhões a US$ 2,8 bilhões, considerando o múltiplo EV/receita médio de 21,6x de fintechs comparáveis listadas e não-listadas como a Ramp, Brex, Clara e Pleo. 

Marchiori disse ao Brazil Journal que decidiu migrar do petróleo para os serviços financeiros porque ainda vê uma oportunidade muito grande neste mercado na América Latina. 

“Temos uma cabeça de private equity e o ciclo de renda fixa e juros altos na América Latina está muito atrativo,” disse ele. “Queríamos surfar essa oportunidade e estamos trazendo para a Maha, que já é listada e tem um balanço muito forte, o tradicional mercado de crédito de curto prazo e antecipação de recebíveis no B2B.”

Fundada em 2020, a Keo nasceu da cabeça de Paolo Fidanza, um empreendedor serial que já fundou e vendeu outras duas startups e agora será conselheiro da nova empresa.

A Keo opera na América Latina (principalmente no México, Peru, Chile e Brasil), Canadá e Estados Unidos, atendendo grandes empresas com soluções de cartões de crédito corporativo, pagamentos digitais com cartão e antecipação de recebíveis. 

Na América Latina, a Keo atende principalmente subsidiárias de grandes multinacionais, que tipicamente usam as três soluções da fintech

Quando os executivos de uma empresa cliente viajam para o exterior, eles usam os cartões corporativos emitidos pela Keo; quando a empresa precisa comprar produtos de um fornecedor de outro país, usa o cartão de crédito virtual da Keo para efetuar a compra, em vez de transferir os recursos e fazer uma operação de câmbio. E quando vende produtos para um distribuidor, a Keo faz a antecipação dos recebíveis.

Nos últimos dois anos e meio, a fintech financiou quase US$ 1 bilhão para empresas, principalmente no México, Chile e Peru, com níveis controlados de inadimplência, segundo o CEO. 

Com o novo capital, a expectativa é levar esse montante para cerca de US$ 10 bilhões/ano já nos próximos três anos. 

Como os empréstimos são curtos, com um prazo médio de 45 dias, para financiar US$ 10 bi em operações por ano seria necessário US$ 1 bi em funding, dado o giro rápido da carteira.