O universo musical é regido por certos dogmas e ditados. Por exemplo, todo disco novo dos Rolling Stones é saudado com o epíteto de “é o melhor deles desde Exile on Main Street”, referindo-se à obra essencial lançada em 1972 – apesar de sequer chegarem perto.

No jazz, acontece algo parecido. Billie Holiday (1915-1959), a maior intérprete do gênero, é o elemento de comparação para qualquer nova voz – e Madeleine Peyroux é uma delas.

Nascida há 49 anos na cidade de Athens, na Geórgia, a cantora passou por essa provação em 1996, quando lançou o belíssimo Dreamland. Mas nunca se preocupou com isso. “Eu amo Billie Holiday e repliquei seu canto sempre que tive oportunidade,” ela disse  por email ao Brazil Journal.

Madeleine está no Brasil para uma turnê onde executa seus principais sucessos e mostra que Billie é apenas uma faceta de seu trabalho, que inclui blues, pop adulto, folk e até country (veja as datas e os locais das apresentações abaixo). Em suma, superou essa comparação e virou uma das melhores cantantes modernas de jazz.

Madeleine é uma intérprete de seu tempo: grava autores da segunda metade do século XX em diante ao invés de recorrer aos surrados clássicos do gênero (ainda que sua estreia seja composta de músicas das décadas de 1930 e 1940).

“Os autores que compõem o meu repertório atual são bastante representativos da mensagem que procuro passar. Não importa se são chamados de jazz ou não,” explica.

O elemento de ruptura foi Careless Love, de 2004, que trazia composições de Bob Dylan e de Leonard Cohen, produzidas por Larry Klein – o produtor de Joni Mitchell e Peter Gabriel, entre outros. Mas seu repertório inclui canções de Paul McCartney e da própria Joni Mitchell. A música brasileira também está em seus planos. Ela é amiga de Martinho da Vila e de sua filha Mart’nália. “Seria uma honra. Em meu coração eu canto música brasileira todos os dias”, responde a cantora, em português.

O termo “uma intérprete de seu tempo” reflete também as preocupações políticas da jazzista. A eleição de Donald Trump para a presidência gerou Anthem (2018), um álbum de forte conotação política. A capa trazia uma bandeira do país e o repertório era composto de canções de protesto do colaborador David Baerwald, além da faixa-título, de autoria de Leonard Cohen.

“O artista tem de refletir as preocupações do período em que vive,” justifica ela, citando o escritor afro-americano James Baldwin (1924-1987). “Ele dizia que o principal compromisso do artista é com a verdade. Não é possível estar comprometido com a arte sem ter uma visão política e ter uma plateia disposta a recebê-la,” comenta.

Donald Trump apeou do poder em 2020 e Madeleine resolveu fazer uma revisão de quase três décadas de atividade. O show que ela traz ao País é um reflexo de sua diversidade, com músicas de seus oito álbuns. Mas ela reserva algumas surpresas.

“Vou tocar canções do novo disco, previsto para ser lançado no início de 2024,” adianta. Madeleine é uma jazzista nos moldes de Billie Ho…. deixemos as comparações de lado.

Madeleine é cantora de qualquer estação.

 

DATAS NO BRASIL

3/10 – Minascentro – Belo Horizonte – 20:30
4/10 – Teatro Bradesco – São Paulo – 21:00