Não basta governar. É preciso competir com o setor privado.

A Trump Organization, liderada por dois dos filhos do Presidente dos EUA, anunciou hoje que está lançando um serviço de telefonia celular – com aparelhos made in America.

A Trump Mobile vai iniciar as operações em setembro. A franquia mensal será de US$ 47,45, com serviços limitados de voz, texto e internet móvel. É o plano 47, que inclui o seguro do aparelho e cobertura 5G em todo o território americano.

O valor e o nome do serviço fazem referência ao fato de Trump ter sido o 45° presidente americano em seu primeiro mandato e ser agora o 47° mandatário.

O preço da assinatura é mais elevado do que o da concorrência, que oferece planos semelhantes por valores entre US$ 25 e US$ 30.

A Trump Mobile deve estar apostando que os trumpistas não vão se importar em pagar um pouco mais para contribuir com o ‘Make America Great Again’ – o slogan, é claro, está estampado na tela do aparelho exibido no site.

“Estamos nos associando a grandes pessoas da indústria para ter certeza de que os americanos tenham de fato o valor de uma operadora de telefonia móvel,” Donald Trump Jr. disse durante uma apresentação na Trump Tower, em Nova York.

Donald Jr. e o irmão Eric são os vice-presidentes executivos da holding familiar.

O novo negócio é uma MVNO (mobile virtual operator network), ou seja, a companhia vai usar a infraestrutura das três principais teles dos EUA – T-Mobile, Verizon e AT&T.

Os clientes poderão também em breve comprar o smartphone T1, na cor sleek gold, por US$ 499, com especificações que – ao menos no anúncio – se equiparam a de iPhones de mais de US$ 1.000.

O aparelho usará o sistema operacional Android. Terá tela de 6,8 polegadas AMOLED, 256 gigabytes de memória interna, câmera principal de 50 megapixels e duas frontais para selfies de 16 mega.

Mas o aparelho será de fato feito nos EUA?

Em uma entrevista hoje cedo, Eric Trump disse que “todos os aparelhos poderão ser fabricados nos EUA” – sem especificar quando ou onde.

De acordo com o Wall Street Journal, por esse valor é improvável que o telefone seja montado em fábricas americanas, ao menos no início da operação da empresa.

Um especialista ouvido pelo Journal estimou que seriam necessários pelo menos cinco anos para que a indústria americana possa entregar modelos com as configurações prometidas. Os primeiros T1 têm grandes chances de serem montados na China.

A Trump Organization é uma mina de dinheiro para o presidente americano e seus familiares, incluindo atividades que – como agora no caso da telefonia – expõem o evidente conflito de interesses entre o público e o privado, embora algumas das transações comerciais tenham sido feitas antes de sua vitória eleitoral no ano passado.

De acordo com informações financeiras de seu patrimônio pessoal divulgadas na semana passada, Trump declarou US$ 600 milhões em rendas em 2024, listando negócios como clubes de golfe, hotéis, criptomoedas e licenciamento de seu nome.

A Trump Watches rendeu US$ 2,8 milhões em royalties, acima dos US$ 2,5 milhões obtidos com a Trump Sneakers. A Greenwood Bible – a “única Bíblia oficialmente endossada” pelo cantor country Lee Greenwood e pelo presidente dos EUA – trouxe um ganho de US$ 1,3.

Trump mantém seus negócios num fundo fiduciário – que no entanto é administrado pelos filhos.

O maior faturamento veio da World Liberty Financial, a empreitada da família em cripto. A emissora da token $TRUMP rendeu US$ 57,4 milhões.

De acordo com estimativas da Reuters, o patrimônio de Trump soma US$ 1,6 bi em ativos.