Quando começou a trabalhar num pequeno laboratório de cosméticos em São Paulo, em 1966, o economista Luiz Seabra ficou “escandalizado com a linguagem da indústria da beleza.”
“Os termos ‘anti-tempo’ e ‘anti-idade’ apareciam nos rótulos dos produtos como sendo uma qualidade. Mas isso não é só uma mentira de marketing, é um desserviço, principalmente, à mulher. É uma negação ao direito ao envelhecimento,” diz.
“O tempo é a matéria-prima da vida. É para ser celebrado.”
Em 1969, quando tinha apenas 27 anos, Seabra foi convidado a se tornar sócio desse laboratório e ajudar a transformá-lo numa produtora e varejista de produtos de beleza que atuasse de maneira diferente. Meses depois, a companhia foi batizada de Natura.
Inicialmente, a empresa funcionou em uma pequena loja na Rua Oscar Freire, em São Paulo. Quatro anos mais tarde, passou a adotar o modelo de venda direta – que segue como o carro-chefe até hoje.
“Me encantava a possibilidade de interação entre a mente e o corpo que os cosméticos poderiam proporcionar,” disse ele a Nilton Bonder neste episódio do The Business of Life.
Na adolescência, Seabra foi calculista de custos indiretos na gráfica em que o pai trabalhava. Na sequência, recebeu uma proposta para ser trainee no departamento de pessoal da Remington, companhia que vendia barbeadores elétricos. Aos 19 anos, virou chefe, e, aos 21, superintendente.
Filho de uma costureira, ele conta que teve desde a infância uma ligação com um “feminino atarefado.” “Nos meus primeiros três anos de vida, quando não estava dormindo, estava no colo da minha mãe enquanto ela costurava. Sempre tive uma ligação com um feminino atarefado, que tem que produzir. E me parecia que a remuneração emocional por aquele trabalho não era na devida medida.”
Olhando para o tamanho da Natura hoje – Seabra detém 14,8% da companhia, que vale R$ 21 bilhões na Bolsa –, o empresário acredita que a escala industrial, que seria o lado mais “racional”, está lado a lado das “estruturas altamente emocionais das forças de vendas.”
Na sua visão, a Natura é um fenômeno coletivo. Foi a partir do feedback de consultoras que a empresa criou algumas linhas de produtos que diferenciam a empresa, diz ele.
Um exemplo é a linha Chronos, lançada em 1986. “Era considerado quase uma loucura colocar o ciclo de idade dos clientes nas embalagens, como fizemos com essa linha. Mas o objetivo era justamente lutar contra os estereótipos, celebrar o tempo e adequar os diferentes ciclos de vida às formulações.”
Nascido em meio à Segunda Guerra Mundial, Seabra, hoje com 81 anos, disse que captou desde muito cedo que a vida poderia ser perigosa, mas que também era possível encontrar caminhos.
No mesmo dia em que nasceu, seu pai – que estava desempregado – recebeu um convite de emprego. “Nasci em meio ao risco e ameaça, mas com esperança. E acredito que a esperança é determinante na nossa existência.”
Em The Business of Life, o rabino e escritor Nilton Bonder conversa com personalidades de sucesso para abordar suas histórias em diferentes dimensões.
Entre os entrevistados em episódios anteriores, estão Pedro Bial, Abilio Diniz, Nora Rónai, Roberto Medina, Nelson Motta, Regina Casé, Luiza Trajano e Wagner Moura. Veja a lista completa.
The Business of Life também está disponível em VideoCast: