A sangria na Bolsa e a abertura das taxas de juros dos últimos dias está chegando ao fim em meio a uma “liquidação massiva” de posições, o diretor de tesouraria do Santander Brasil disse aos clientes numa nota ontem à noite.

Nos últimos dois pregões, o volume de DIs negociados na B3 ficou entre duas e três vezes a média diária – e esta quinta-feira deve ter marcado um outro recorde, Sandro Sobral disse no email enviado aos clientes.

“Olhando a performance relativa da curva – que está ficando flat – e a performance dos DIs 2025 e 2026 e das NTN-Bs (26/28), só há uma conclusão: houve uma liquidação massiva – stop-losses – e todas as visões de consenso foram destruídas,” disse Sandro.

As perdas mostram que a aposta do mercado na economia brasileira – que fez o kit Brasil se apreciar entre o final de março e o final de julho – acabou em decepção, com a abertura dos Treasuries drenando a liquidez do mercado.

Sandro disse que os dados de performance dos fundos multimercado locais mostram uma carnificina: os retornos no mês e no ano estão “profundamente no vermelho”.

O problema: o investidor local demorou para comprar a melhora do mercado, comprou a preços caros e, depois demorou a reagir à deterioração do cenário internacional piorava.  Em outras palavras: os multimercados locais estavam pessimistas em março e otimistas em julho.

“Ironicamente, o ano será marcado pelos extremos, com os gestores perdendo dinheiro tanto nas posições bullish quanto nas bearish,” escreveu Sandro.

Sandro disse que o que realmente machucou o mercado foi a combinação tóxica de duas posições:  a aposta (enorme) de que o BC aceleraria o corte de juros no curto prazo e a aposta (menor) de que as taxas mais longas subiriam depois do final do ciclo de cortes.  No final, o BC não acelerou, e as taxas longas subiram menos que o esperado.

“Os estrangeiros começaram a sair do Brasil nos últimos 30 dias, vendendo os títulos prefixados. Enquanto isso, os locais não fizeram nada. Ficaram olhando. Mas nos últimos 3 dias, os brasileiros disseram ‘get me out’,”  Sandro disse ao Brazil Journal.

Dado esse nível de perdas, monitorar a posição técnica do mercado agora é uma forma de prever quando a sangria vai terminar – e, segundo ele, o fim está próximo.

“Usando os dados de terça-feira – o primeiro dia de desalavancagem – vimos alguma redução, mas não o suficiente. Mas olhando os dados de ontem e de hoje [quinta], tenho certeza de que veremos uma redução maciça na exposição às taxas. Estamos muito perto do fim da desalavancagem.”

Para quem não saiu da pista – e ainda aposta num cenário benigno para Brasil – o ponto de entrada agora é muito mais atraente: o mercado agora aposta numa taxa terminal de 10,30% (contra 8,5% antes), o que deixa espaço para algum upside, enquanto a posição técnica está leve (ou seja, as posições estão muito longe de estar sobrecompradas).

“Nossa tese foi mais uma vez confirmada: os locais são sempre pró-cíclicos e sempre estão na mesma ponta [do trade] ao mesmo tempo,” Sandro disse no email. “A melhor estratégia este ano tem sido ir contra o consenso e jogar contra os extremos.”