A Kora Saúde, um dos maiores grupos hospitalares privados do país, acaba de adiar seu IPO, cujo pricing estava previsto para hoje, em meio à falta de interesse de investidores internacionais e pressão por descontos. 

A companhia de origem capixaba pretendia captar cerca de R$ 1,67 bilhão numa oferta primária. 

A faixa indicativa de preço era de R$ 11,20 a R$ 15,50 — um múltiplo de 17x a 21x EV/EBITDA 2021.

Dona de 11 hospitais no Espírito Santo, Tocantins, Brasília e Mato Grosso, a Kora decidiu não aceitar os descontos e optou por aguardar uma janela de mercado mais favorável.
 
Pelo menos quatro investidores haviam se comprometido com ordens relevantes no piso da faixa:  Indie Capital, Fourth Sail, Safari Capital e Newfoundland Capital. 

A HIG Capital — a gestora global que administra US$ 44 bilhões em private equity e tem 75% da empresa — fará um aumento de capital de pelo menos R$ 200m-300m nas próximas semanas para continuar suportando o plano de crescimento da empresa, pessoas a par do assunto disseram ao Brazil Journal.

Desde que a HIG investiu na Kora em 2018, a companhia tem focado em comprar hospitais de excelência para o padrão de cada capital, sempre fora do eixo Rio-São Paulo, onde a concorrência é mais brutal.  No Espirito Santo, a empresa fechou o mercado com a Rede Meridional, dona de 7 hospitais na Grande Vitória.

A companhia, que fazia R$ 35 milhões de EBITDA em 2018, deve fazer R$ 400 milhões este ano.

A rede hospitalar tem o objetivo de expandir para novas praças, adquirindo hospitais que sejam referência e que tenham grande potencial de crescimento orgânico via projetos brownfields e greenfields, bem como, fortalecer sua presença nas regiões que já atua, adquirindo casas de saúde e serviços médicos complementares, como oncologia, diagnóstico por imagem, laboratório e hemodinâmica. 

Os principais nomes por trás da empresa são: o CEO Antônio Benjamim, cirurgião vascular e mineiro de Teófilo Otoni, no interior de Minas, dedicou praticamente toda sua carreira à Kora. Ele foi o fundador do Meridional, o primeiro hospital que a HIG comprou para usar como plataforma de aquisições.

Flavio Deluiggi, que deixou a HIG após 8 anos para assumir como CFO e DRI da empresa; Elias Leal, que passou pelo Pátria e HIG e deixou o fundo para assumir como diretor de M&A. 

O COO Márcio Machado passou 7 anos na Rede D’Or, e o vp comercial Michel Santana tem passagens pela United Health Group, Grupo Fleury e Oncoclínicas. 

Apesar do cenário macroeconômico adverso e da pandemia , a Kora Saúde se mostrou resiliente em 2020: cresceu receita líquida em 38% e o EBITDA, em 84%. Considerando apenas “same hospital sales”, o crescimento de receita foi de 9% em 2020. 

Desde 2018 a Kora teve crescimento de receita líquida de 47% ao ano (CAGR); o crescimento orgânico, de 16%.

Em fevereiro, a empresa anunciou a aquisição do Hospital Anchieta, um dos maiores do Distrito Federal, com 270 leitos e receita líquida de R$ 263 milhões em 2020.

Na reta final da oferta, a Kora Saúde atualizou os “fatores de risco” de seu prospecto com informações sobre um pedido de liminar de alguns minoritários para suspender a operação. A Justiça indeferiu o pedido.

Os minoritários alegam que seu direito de preferência não foi respeitado em 2018, quando a HIG comprou o controle. Se os minoritários obtiverem decisão favorável da Justiça e exercerem a preferência, poderão ficar donos de até 15% do Hospital Meridional, e a participação da Kora na rede cairia de 93% para 78%. 

Os coordenadores da oferta eram Itaú BBA, JPMorgan, Bradesco BBI, Santander, XP e UBS BB.