A Kanastra — uma startup que fornece serviços de backoffice para produtos alternativos como FIDCs, FIPs e CRIs — acaba de levantar capital para tentar ganhar share num mercado de R$ 1,5 trilhão dominado por players tradicionais como a BRL e a Oliveira Trust.
A rodada de seed money foi liderada pela Valor Capital e pela Quona, uma gestora americana que já investiu na Creditas, na Kovi e na Monkey Exchange.
A captação também teve a participação do QED Investors, Actyus, Collaborative, Crestone, Grão, Endeavor, Clocktower, Latitud e da Norte Ventures — além dos fundadores de empresas como Creditas, CERC, Hashdex e Conta Simples.
A Kanastra levantou US$ 13 milhões (R$ 62 milhões ao câmbio de hoje) e vai usar os recursos para investir em tecnologia e tentar escalar o negócio, que ainda tem uma fração pequena deste mercado.
A startup também deve fazer M&As pequenos com o objetivo de conseguir licenças que ainda faltam para a operação.
Fundada em janeiro do ano passado, a Kanastra fornece basicamente o backoffice tecnológico para a estruturação e gestão de FIDCs e FIPs e para a securitização de CRIs e CRAs, por exemplo.
Para isso, ela passou o último ano e meio conseguindo licenças do Banco Central e da CVM para poder atuar como administrador, gestor, custodiante e escriturador desses produtos, criando uma espécie de ‘one-stop shop’ para esse mercado.
“Antes da gente, para criar um FIDC, por exemplo, o originador tinha que contratar múltiplos prestadores, que iam fazer cada um uma parte do processo,” Gustavo Mapeli, o cofundador da Kanastra, disse ao Brazil Journal. “Com a gente, ele consegue fazer tudo em um só lugar e ter acesso a uma plataforma que digitaliza a interface com o usuário, automatiza processos e dá dados sobre os produtos.”
A Kanastra atende 35 clientes — incluindo a Creditas, SolFácil e o Pátria — e tem R$ 2 bilhões em ativos sob custódia. Para se ter uma ideia: a estimativa é que o AUC total dos fundos estruturados e produtos securitizados some R$ 1,6 trilhão no Brasil.
Os maiores players desse mercado são a BRL Trust, que tem R$ 400 bilhões em AUC mas é muito concentrada em FIPs de private equity; e a Oliveira Trust, que tem R$ 120 bi em AUC em crédito privado, FIDCs e securitização.
A Vórtx — uma startup fundada em 2018 e que opera no mesmo nicho — também tem crescido nos últimos anos.
Segundo Gustavo, a meta da Kanastra é chegar a R$ 10 bi de ativos nos próximos 12 meses. A receita da startup é um fee de cerca de 0,2% em cima dos ativos dos fundos.
A Kanastra foi fundada por Gustavo – que teve passagens pelo BNP Paribas em Londres, pelo BCG e pelo Softbank – e por Manuel Netto, que trabalhou na ZX Ventures.
Os dois já haviam empreendido juntos: em 2020, cofundaram a Kardinal, uma gestora de fortuna e ativos alternativos com foco em clientes fora do eixo Rio-São Paulo. A ideia de criar a Kanastra surgiu porque “originávamos muitos deals que precisavam de estruturação e vimos que mercado estava muito mal atendido.”
Com esse diagnóstico, os dois decidiram vender suas participações na Kardinal e se dedicar à Kanastra.
Segundo Gustavo, a capitalização de hoje cobre a necessidade de caixa da operação por mais de três anos. Apesar de ainda não gerar caixa, o empreendedor diz que o negócio para de pé.
“Diferente de outros negócios que têm mega escala e não geram caixa, os players desta indústria têm margem EBITDA entre 30% e 50%,” disse ele. “É só uma decisão de quando queremos parar de crescer.”