As declarações e atos preocupantes do governo eleito e do Congresso frustraram o rali pós-eleitoral: a curva de juros abriu e nocauteou a Bolsa.

Mas para o JP Morgan, os preços atuais já podem refletir boa parte das más notícias, e o cenário externo mais favorável pode ajudar o Brasil.

No múltiplo preço-lucro, a Bolsa brasileira está negociando em valores tão baixos quanto os vistos na grande crise financeira de 2008. Em termos de preço/book value, o valor é um dos menores da história recente.

Para os analistas, o mercado já precificou muito, “se não tudo”, do que ocorre na frente política, e com a reabertura da China e o fim do ciclo de alta de juros nos EUA, há a possibilidade de surpresas positivas para o mercado brasileiro.

“A reabertura da China já elevou o preço do minério em 40% desde que Lula foi eleito,” escrevem os analistas Emy Shayo Cherman, Pedro Martins e Cinthya Mizuguchi.

O esperado enfraquecimento do dólar também deve dar um impulso aos mercados emergentes.

Os analistas lembram os números “péssimos” no cenário fiscal. Pelas contas do time de análise econômica, a relação dívida/PIB deve subir de 74,5% do PIB para 80%, com o déficit nominal subindo de 4,3% do PIB para 8,5% do PIB.

O superávit primário esperado para 2022, de 1,4% do PIB, vai se transformar em déficit de 1,4% – uma reversão de quase 3 pontos percentuais em 12 meses.

“Estamos também mais preocupados com a possibilidade de reversão de reformas que foram feitas desde 2016,” dizem os analistas.

Existia a percepção, até recentemente, de que as reformas não estariam ameaçadas e, se houvesse tentativas do novo governo de mexer em pontos como a reforma trabalhista, o Teto de Gastos e o BNDES, o Congresso imporia dificuldades.

“Mas o Congresso não tem sido um freio. Longe disso. Até onde isso vai? Não sabemos, e hoje estamos mais preocupados do que estávamos há dois dias,” desabafam os analistas, ecoando toda a Faria Lima.

Isto posto, eles consideram a possibilidade de a maior parte das más notícias terem sido antecipadas, e acham que seria “ilógico” o Governo eleito desancorar as expectativas do setor privado, o que resultaria em menor crescimento econômico e desafios no campo político.