O Itaú Unibanco reportou um ROE de 20,7% no primeiro tri e uma normalização na inadimplência – mostrando resiliência num momento em que concorrentes ainda sofrem com o aumento de créditos em atraso e um cenário macro desafiador.
A ação subiu 2,3% no início da tarde em meio a um mercado em alta.
O banco dos Setúbal, Villela e Moreira Salles entregou um lucro líquido de R$ 8,4 bilhões – quase a soma dos resultados de Bradesco, Santander e BTG no tri.
O número é 14,5% acima do mesmo período do ano passado e veio em linha com o consenso.
No sellside, analistas notaram que o resultado mostra uma dinâmica bem mais positiva que a do Bradesco, que reportou os resultados na semana passada.
Enquanto o Bradesco viu um aumento de 0,8 ponto em seu NPL acima de 90 dias, o Itaú entregou uma inadimplência estável em relação ao trimestre passado, em 2,9%.
A estabilidade do NPL mostra que “estamos voltando para uma normalidade nas pessoas físicas, que era o que já esperávamos que acontecesse,” o CEO Milton Maluhy disse na call com analistas.
No trimestre, a inadimplência de 15 a 90 dias subiu um pouco – 0,3 pontos – mas por conta de uma questão sazonal, disse o CEO. No período, o consumidor tem mais compromissos financeiros (como IPVA e IPTU) e gastos com o fim do ano.
O Itaú viu sua margem com o mercado – que reflete os ganhos com a tesouraria – cair 36%, mas ainda entregou um resultado positivo de R$ 645 milhões – comparado a uma margem negativa em R$ 300 milhões no Bradesco, que teve um tri de recuperação.
A piora da margem com clientes – que caiu 0,7% na comparação trimestral – teve a ver com a sazonalidade do primeiro tri, que tem menos dias corridos que o trimestre anterior.
Para o Safra, a surpresa positiva do trimestre foi justamente a normalização da qualidade do crédito, que “pode indicar níveis melhores de provisões olhando para frente.”
Na call, Milton ressaltou o resultado do chamado índice de eficiência – que mede a produtividade da companhia (quanto menor, melhor). No primeiro tri esse indicador fechou em 39,8%, abaixo de 40% pela primeira vez na história do banco.
“É o melhor número da nossa história, e o menor índice da indústria,” disse o CEO. “E não estamos entregando esse índice de eficiência deixando de cuidar do futuro do banco. Continuamos investindo muito em tecnologia.”
O Itaú fechou o primeiro tri com uma Basileia ‘Tier 1’ de 13,5%, uma alta de 1 ponto na comparação anual. A Basileia total ficou estável em 15%.
As provisões caíram 9% na comparação trimestral, e o índice de cobertura – quanto capital o banco tem para cobrir perdas estimadas – ficou flat em 212%.
Como todo o setor, o Itaú desacelerou o crescimento de sua carteira de crédito, reduzindo a concessão para clientes mais arriscados e focando nos de alta renda e em créditos com garantia.
“Estamos crescendo e ganhando share nos clientes para os quais temos apetite, e estamos crescendo menos e perdendo share de forma proposital nos clientes de mais risco,” disse Milton. “Temos um apetite de risco bem definido e um arcabouço claro… Nosso driver segue sendo crescimento, mas vamos crescer menos pelos desafios que vemos na frente.”
Segundo ele, há também uma questão de demanda. No middle market, por exemplo, a demanda por crédito está caindo entre 20% a 25%, disse Milton.
“Em pessoa física, teve o cap do consignado também, que fez a gente cortar alguns públicos que não eram sustentáveis. No crédito imobiliário também temos cortado um pouco, e a demanda dos clientes também caiu.”
Milton também discutiu a estrutura da rentabilidade do banco – e as perspectivas para frente.
No passado, o maior ROE do Itaú sempre foi no varejo (historicamente cerca de 30%), com o atacado entregando uma rentabilidade menor (ao redor de 17%).
Agora, no entanto, essa relação se inverteu: o varejo está entregando um ROE de 17%, enquanto o ROE do atacado subiu para 30%.
Para Milton, a queda da rentabilidade do varejo nos últimos anos teve a ver com quatro fatores: a pandemia, quando o banco fez uma renúncia grande de receitas para ajudar os clientes; efeitos regulatórios, como o cap do cheque especial, que reduziu a rentabilidade estrutural do segmento; o aumento da concorrência, particularmente dos bancos digitais; e a volta da inadimplência, que subiu muito forte nos últimos anos, especialmente em cartões de crédito.
O CEO disse que a operação de varejo hoje depende muito mais do crédito do que no passado, quando a relação era mais ou menos 50/50 entre crédito e fees.
“Tudo isso levou a rentabilidade do varejo para um patamar mais baixo,” disse.
Para o CEO, há espaço para melhorar a rentabilidade do varejo, mas o ROE do segmento não deve mais voltar aos patamares do passado.