O Itaú Unibanco comprou ontem 11,3% do capital da XP Inc por R$ 7,9 bilhões, com o grosso das ações vindo da gestora de private equity General Atlantic (GA), que investiu na companhia fundada por Guilherme Benchimol em 2012.
O valuation de 19x lucro já havia sido acordado há anos, e coincidiu de estar em linha com o múltiplo que o mercado atribui hoje à XP, que negocia a 19,5x o lucro. A companhia vale cerca de R$ 70 bi na Bolsa.
Do total da venda – uma obrigação contratual prevista na aquisição inicial da XP pelo Itaú em 2017 – a GA respondeu por 7,9%; a XP Control, o veículo dos sócios que controlam a XP, por 2,3%; e a Dynamo, que também investiu na XP em 2012, por 1,2%.
Depois da negociação, a XP Control mantém 18,5% do capital total e 65,7% do poder de voto na XP.
A GA ainda tem 3,3% do capital total e 1,2% do capital votante; e a Dynamo não tem mais participação – pelo menos por meio de seu veículo de private equity.
Para reduzir o ruído entre os colaboradores da XP, o CEO Thiago Maffra reiterou num comunicado que o negócio foi uma obrigação contratual e que “não temos nenhum interesse em vender a XP Inc. ou qualquer parte da empresa, por menor que seja, para outro player do mercado.”
“Seguimos controlando a companhia como sempre fizemos e comprados no nosso sonho grande e de longo prazo de construir a maior e melhor empresa financeira do mundo.”
O negócio realizado ontem é uma consequência do casamento entre XP e Itaú em 2017.
Primeiro, eles acordaram que o banco compraria 49,9% da XP e poderia elevar a participação, chegando ao controle da corretora.
O Itaú primeiro subiria a fatia para 62,4% em 2020 pagando um múltiplo de 19x lucro; depois, poderia chegar a 74,9% em 2022, pagando o valor de mercado; e a partir de 2024, poderia ficar com 100% do negócio.
Mas em 2018, o Banco Central vetou a aquisição do controle.
Os termos do negócio foram redefinidos, e no redesenho ficou acertado que em 2022 o Itaú compraria mais 12,5% da XP pertencentes a XP Control, Dynamo e General Atlantic pagando 19x o lucro de 2021.
(Os 12,5% se tornaram 11,3% depois que a XP emitiu novas ações.)
O negócio foi acertado entre os acionistas e só dependeria da aprovação do Banco Central, o que aconteceu neste mês.
O divórcio entre Itaú e XP em 2021 não extinguiu essa obrigação de compra dos 11,3% firmada em 2017.
Nos últimos anos, o mercado especulava quanto o Itaú poderia lucrar ao revender essa fatia, já que a XP estava valendo muito mais na Bolsa.
A ação da XP negocia hoje bem abaixo de sua média histórica de 34x lucro – e parte do motivo é a pressão vendedora da Itaúsa.
A queda das ações começou a se acentuar no início de outubro, quando o banco criou um overhang ao distribuir sua posição na XP aos acionistas – entre eles a Itaúsa, que disse que venderia o papel porque a corretora não seria um ativo estratégico em seu portfólio.
De lá para cá, a Itaúsa já fez dois block trades, e ainda mantém 11,5% da XP – em dezembro, vendeu 1,4% da XP por R$ 1,3 bi; e em março, mais 2,14% por R$ 1,8 bi. A expectativa é que novas vendas aconteçam ao longo deste ano, o que mantém o papel sob pressão.
A venda da participação na XP por parte dos acionistas do Itaú marca o encerramento de um dos melhores investimentos da história do banco, que entrou na companhia a um valuation de R$ 12 bi há apenas cinco anos.
O mercado espera que o Itaú eventualmente se desfaça das ações adquiridas ontem, mas o timing da venda dependerá da avaliação do banco sobre o negócio da XP. Uma venda agora não traria um ganho de capital, mas se o banco avaliar que o negócio tende a piorar, ele estaria sujeito apenas às regras de lockup do acordo de acionistas.
Além do overhang da Itaúsa, a ação da XP também sofreu no ano passado com a reprecificação do setor de tecnologia pelo mundo e por conta do novo patamar da Selic no Brasil.