Irlau Machado renunciou inesperadamente ao cargo de co-CEO da Hapvida, pondo fim ao duplo comando iniciado na fusão com a Intermédica aprovada pelo CADE em janeiro deste ano.
Jorge Pinheiro, o filho mais velho do fundador da Hapvida, será o único CEO da companhia a partir de 21 de janeiro, aprofundando o que um investidor chamou de “hapvinização” da empresa.
“No final das contas, todo mundo sabia que quem vai tocar o negócio é o pessoal da Hapvida,” disse um gestor.
A ação caiu 3% na abertura, chegou a zerar as perdas e opera em queda de 3,75% por volta das 11:45 hs, em meio a uma piora dia mercado.
A Hapvida faz parte da carteira da maior parte das grandes gestoras do País, tanto por seu histórico de resultados quanto pela liquidez do papel. O papel cai 47% desde janeiro.
A fusão entre Hapvida e Intermédica foi anunciada em janeiro do ano passado, com o mercado celebrando o negócio como a confirmação do sucesso do modelo de verticalização no setor de saúde.
Na época, as duas empresas somadas valiam R$ 110 bilhões; hoje, a Hapvida vale menos de R$ 40 bi.
Irlau foi o responsável por transformar a Intermédica — uma investida da Bain Capital — em uma das empresas mais rentáveis do setor. Desde sua entrada na companhia em 2014 até 2020, o EBITDA cresceu 9x para R$ 1,8 bilhão — antes de mergulhar para R$ 719 milhões no ano passado, como resultado da pandemia.
O executivo foi regiamente recompensado: foi um dos grandes acionistas da Intermédica e, posteriormente, da Hapvida. Um plano de stock options da Intermédica na época do IPO, em 2018, deu 9,99% de participação ao corpo executivo – a maior parte para Irlau.
Mas nos últimos meses, Irlau já vinha se desfazendo de suas ações.
Alguns investidores acharam a saída prematura.
O UBS BB disse que apesar da estrutura de co-gestão sempre ter sido um ponto de preocupação, aumentam os receios “considerando as complexidades em integrar duas grandes companhias com diferentes culturas e gestões”.
A saída acontece num momento de incerteza na Hapvida. Os números do terceiro trimestre vieram abaixo do que o mercado esperava. A empresa teve um crescimento de 122 mil vidas no período e um MLR (medical loss ratio) de 73% – dentro do esperado – mas o EBITDA ajustado caiu 13% na comparação anual e a queima de caixa continuou, o que fez a dívida líquida aumentar em R$ 183 milhões.
Com o aumento das despesas – que a companhia teve dificuldade de explicar – e o MLR distante de convergir, tanto o sellside quanto o buyside reclamaram.
Para um gestor que aumentou sua posição recentemente, a nova gestão solo deverá se tornar ainda mais agressiva na redução de custos médicos. “Pode até ser um problema lá na frente, mas no curto e no médio prazo eles terão melhoras operacionais relevantes,” disse.
Este gestor acredita que o mercado já precificou os problemas recentes da companhia e que a saída de Irlau não deve fazer preço por ora.
A saída de Irlau é a mais recente em meio a uma série de altos executivos vindos da Intermédica que também já deixaram a companhia no pós-fusão, incluindo Massanori Shibata Jr. (hoje na Petz), Glauco Desidério (agora RI da Dasa), Pedro Calandrino (agora CFO da Athena Saúde). Do lado da Hapvida, o conselheiro e ex-vp comercial Lício Cintra foi substituído em setembro.
Outro gestor evocou a sabedoria da avó para ver a notícia como um fato positivo: “Cachorro com dois donos toma dois banhos e morre de fome.”