A Standard & Poor’s deu um crédito de confiança para o Governo brasileiro ao elevar para positiva a perspectiva para o País.
Mas seria prematuro falar em elevar a nota para investment grade, disse Lisa Schineller, diretora da S&P responsável pelas análises de risco soberano.
“O Brasil tem dois pontos fracos: crescimento e situação fiscal,” Lisa disse durante sua participação no GZERO Summit Latam, do grupo Eurasia, hoje em São Paulo.
O Brasil conquistou o investment grade em 2008, mas perdeu a classificação em 2015. Agora precisa conquistar três upgrades para voltar ao grupo das economias mais confiáveis.
Lisa disse que as novas regras fiscais e a possível aprovação da reforma tributária podem contribuir para uma elevação futura da nota brasileira, mas é necessário demonstrar compromisso com a execução dos ajustes.
Ao mesmo tempo, segundo ela, um ponto essencial para a melhora na trajetória da dívida pública é a aceleração do crescimento do PIB. O Brasil, assim como outros países da América Latina, têm obtido resultados fracos nesse aspecto, ao contrário das economias asiáticas, onde os upgrades do rating soberano têm sido mais frequentes.
Joaquim Levy, o ex-ministro da Fazenda e hoje diretor do Safra, fez coro.
“A Lisa chamou atenção para um aspecto fundamental: precisamos crescer e crescer,” disse Levy. “O País precisa crescer para o arcabouço funcionar.”
Para Levy, o Brasil precisa voltar a ter ambição de aumentar o ritmo de crescimento, mas “se apoiarmos a indústria A ou B ou C, sem estratégia de mercado, não vamos muito longe.”
Segundo Levy, no próximo ano a economia terá a ajuda da queda dos juros, o que vai destravar o crédito. “Mas isso é um respiro.”
A estabilização da dívida exige um crescimento do PIB entre 2,5% e 3%. Sem isso, afirmou, a dívida continuará crescendo – ou a carga tributária terá que subir ainda mais.
Mansueto Almeida, o ex-secretário do Tesouro e economista-chefe do BTG, disse que as reformas feitas recentemente pelo País, como a previdenciária e a trabalhista, podem ter elevado o potencial de crescimento.
O mercado de capitais também se transformou na principal fonte de financiamento dos investimentos, superando o dinheiro dos bancos públicos.
Em sua opinião, talvez por isso o PIB tenha avançado nos últimos anos em uma velocidade um pouco acima da estimada pelos analistas. “É uma tese,” disse Mansueto.
Um dado positivo apareceu hoje no Relatório Trimestral de Inflação do Banco Central. Pelas projeções atualizadas, a inflação deverá recuar para 3,1% em 2025, em um indicador de que as expectativas estão sendo ancoradas.
“Assim poderemos ter o corte da Selic em agosto,” afirmou Mansueto.