Com R$ 14 bilhões em dívidas financeiras, a fabricante de cimento InterCement protocolou ontem à noite um pedido de recuperação judicial na 1ª Vara de Falências e Recuperações de São Paulo.

O pedido não contempla a Loma Negra, empresa com sede na Argentina, mas inclui a controladora Mover Participações (a antiga Camargo Corrêa).

Esse movimento da InterCement era aguardado pelo mercado há praticamente um ano, mas foi sendo postergado com o andamento da negociação da venda da companhia para a CSN. 

Depois de uma série de idas e vindas, as empresas vinham prorrogando as negociações exclusivas, que agora estavam marcadas para expirar em 16 de dezembro. Com a RJ, no entanto, a exclusividade com a companhia de Benjamin Steinbruch deixa de existir.

Na manhã desta quarta-feira, a CSN divulgou um fato relevante em que afirmou não estar mais engajada no processo e que seguirá analisando outras oportunidades no segmento de cimentos.” A notícia deve ser bem vista pelo mercado já que a siderúrgica tem uma alavancagem estimada em 4x EBITDA para o ano que vem. 

A InterCement tentou uma recuperação extrajudicial há alguns meses, mas não conseguiu a adesão de 50% mais um dos credores. 

“Agora tudo recomeça do zero. Toda a operação de recuperação extrajudicial estava calcada nas vendas dos ativos da CSN, e o acordo não acabou se concretizando,” disse ao Brazil Journal o advogado Eduardo Munhoz, fundador do escritório E.Munhoz, que assessora a companhia junto com o Houlihan Lokey, o assessor financeiro.

O pedido de RJ contemplou apenas as dívidas financeiras da InterCement – R$ 6 bilhões em debêntures nas mãos de Itaú, Bradesco e BB; R$ 3,5 bilhões em bonds; outros R$ 3,1 bilhões em dívidas da Mover com o Bradesco; e R$ 1,4 bilhão com outros credores.  

A empresa ainda tem R$ 15 bilhões em dívidas intercompany com outras empresas do grupo, mas que estão fora do pedido. 

A partir de agora, a InterCement terá 60 dias para apresentar um plano aos credores. Segundo Munhoz, uma série de alternativas podem ser exploradas, e a empresa não descarta vender ativos.  

“Os seis meses que a lei da RJ dá de proteção nos trazem um pouco de tranquilidade, sobretudo porque a empresa tem caixa e está operando bem,” disse Munhoz.  

Segundo o advogado, a empresa deve gerar um EBITDA entre R$ 600 e R$ 800 milhões este ano. “É uma empresa que tem caixa e pode acertar a estrutura de capital.” 

A InterCement – dona das marcas de cimento Cauê, Zebu e Goiás – foi uma das vítimas do aumento dos juros no Brasil, seu principal mercado. Em setembro, a Fitch Ratings retirou o rating por razões comerciais, mas sua última nota já considerava a empresa em default seletivo. 

A InterCement tem capacidade de produção anual de 28 milhões de toneladas, considerando apenas as operações no Brasil e na Argentina.