O Inter acaba de anunciar que vai distribuir US$ 14 milhões em dividendos — rompendo uma seca de mais de dois anos sem remunerar seus acionistas.
O banco digital da família Menin deu prejuízo em 2020, 2021 e 2022, mas voltou a dar lucro no ano passado, quando fez um bottom line de R$ 352 milhões, com um ROE de 4,9%
O valor a ser pago — um payout de 20% — equivale a US$ 0,03 por ação e a R$ 0,15 por BDR.
O CFO Santiago Stel disse ao Brazil Journal que o pagamento é quase simbólico, mas que a mensagem é muito positiva.
“É um valor bem pequeno, menos da metade do lucro que fizemos no quarto trimestre,” disse ele. “Mas o pagamento ajuda a alinhar os investidores, que passam a participar do resultado da empresa.”
O Inter é listado nos Estados Unidos, onde as companhias não têm obrigação de distribuir uma porcentagem mínima do lucro, diferente do que acontece no Brasil.
Santiago disse que o Inter não pretende criar uma política de dividendos; a companhia vai avaliar se faz ou não a distribuição ao fim de cada exercício fiscal.
“Mas a nossa ideia é continuar mantendo a maioria do lucro gerado dentro de casa, para reinvestir no crescimento do negócio,” disse o CFO. “Esse patamar de uns 20% [de payout] parece algo razoável para frente.”
A distribuição vem num momento em que o Inter tem aumentado sua rentabilidade trimestre a trimestre, desde o início do ano passado.
No primeiro tri de 2023, o ROE foi de apenas 1%; no segundo, já subiu para 3%; no terceiro, para 5,7%; e no quarto, chegou a 8,7%.
“E ainda temos muito excesso de capital, o que acaba reduzindo esse indicador,” disse o CFO. “Temos quase o dobro do capital que precisamos ter, e estamos criando muito capital orgânico, com o lucro que temos gerado.”
Segundo ele, o plano é colocar esse capital excedente para trabalhar ao longo do tempo, principalmente com a aceleração na concessão de crédito.
Santiago disse que o primeiro trimestre deste ano foi “muito bom”, com métricas financeiras que “superaram as do quarto tri, mesmo considerando a sazonalidade negativa.”
Historicamente, os primeiros trimestres são piores para o setor bancário, dada a menor disponibilidade de dinheiro nas famílias, o que geralmente leva a um aumento da inadimplência.
O Inter não passa guidance para o lucro de 2024, mas o consenso do mercado é de algo ao redor de R$ 800 milhões, o que já representaria um ROE de 12% a 13%. O soft guidance do banco para 2027 é chegar num ROE de 30% com um lucro líquido de R$ 5 bilhões.
Diferente do ano passado, quando o crescimento da rentabilidade veio principalmente de ganhos de eficiência, Santiago disse que este ano a melhora deve vir de um crescimento da margem financeira líquida (NIM) e de uma redução da inadimplência.
“O mercado vai ajudar, com as taxas caindo e a inadimplência melhorando de modo geral, mas eu diria que 80% dessa melhora virá de medidas micro, com melhoras nos nossos processos de underwriting e cobrança.”
Curiosamente, a distribuição de dividendos vem dois meses depois do Inter ter feito um follow-on que injetou US$ 160 milhões no caixa da empresa.
Santiago disse, no entanto, que o follow-on teve apenas o objetivo de trazer investidores novos para a base acionária e aumentar a liquidez do papel na Nasdaq, onde é listado.
Antes do follow-on, a ação do Inter negociava apenas US$ 1 milhão por dia. Depois da oferta, o volume médio diário já disparou para US$ 6 milhões.
“Entramos no radar de muitos investidores. Vemos isso claramente nas reuniões de equity que temos tido nos bancos, e a qualidade dos investidores que nos procuram melhorou muito depois da oferta.”
Santiago também falou do plano da empresa para os Estados Unidos, uma avenida de crescimento importante para a empresa no médio/longo prazo. O CFO — que mora em Miami — disse que a estratégia para os EUA foi dividida em três passos.
O primeiro foi a compra da Usend, uma plataforma para brasileiros que moram nos EUA e mandam dinheiro para o Brasil. O segundo foi a criação da Global Account, que permite que brasileiros tenham uma conta em dólar.
“E o terceiro passo, que estamos avançando agora, é poder fazer o cross selling nos EUA, com os clientes da Usend e da Global Account tendo acesso a mais produtos, como conta de débito, seguro e crédito,” disse ele.
O Inter começou recentemente a operar com crédito imobiliário nos EUA, mas a carteira ainda é insignificante para o tamanho do banco.