A Hypera (antiga Hypermarcas), que começara o ano passado com crescimento, viu sua receita, margem e lucro contraírem no quarto trimestre.

A companhia disse agora à noite que seu faturamento contraiu 6,5% no quarto tri em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. 

A margem bruta caiu de 73,4% para 68,6% — a pior dos últimos anos — e o EBITDA das operações continuadas caiu 9,9%.

O lucro líquido das operações continuadas despencou 32,9%.

No comentário de resultado, a companhia preferiu focar na performance do ano em vez de discutir o trimestre.

A Hypera havia começado 2018 crescendo sua receita em 14%, mas o ano foi piorando gradativamente e terminou com uma alta de apenas 6,4%.  No ano todo, a margem caiu dois pontos, o EBITDA subiu 7% e o lucro líquido, 17%.

Para investidores que acompanham a empresa, a Hypera pode estar revivendo um velho problema:  canais de venda estocados. (Convém tomar Estomazil.). Em 2011, quando enfrentou este problema, a companhia precisou de um ano para voltar a crescer.

A linha de contas a receber, que terminara o terceiro trimestre em 118 dias, pulou para 128 dias no final do ano e se compara a 99 dias no final de 2017 — um aumento de um mês em apenas um ano.

No guidance de 2019, também anunciado hoje, a companhia decidiu pular o guidance de EBITDA e fez projeções apenas sobre o resultado líquido, que estima ser de R$ 1,225 bilhão este ano (um crescimento de 8% sobre o ano passado).

O guidance implica que a companhia, que tem um valor de mercado de R$ 18,3 bilhões, está negociando a um múltiplo de 15 vezes lucro.

Parece barato, desde que os próximos trimestres não se pareçam como o último.

 
Agravando as incertezas: o mercado trabalha com a tese de que o controlador da empresa, João Alves de Queiroz, o Júnior, e o ex-CEO Claudio Bergamo estariam negociando um acordo de delação com a Procuradoria Geral da República.  Em maio de 2018, a companhia anunciou a criação de um comitê independente para apurar as acusações de que pagou propina a parlamentares. No mercado, a preocupação é de que a companhia terá que pagar uma multa, cujo valor ninguém sabe estimar.

“Isso tudo pesa, junto com esse crescimento anêmico,” diz um gestor. “Ninguém quer empresa sem crescimento de receita, resultado operacional e lucro.”