A Hope demorou 20 anos para chegar a 320 lojas em todo o Brasil. Mas nos próximos 500 dias, a tradicional fabricante de lingerie deve atingir 500 lojas.
Criada em 1966 como uma indústria de calcinhas, a Hope entrou no varejo em 2005 e hoje tem uma rede de franquias que fatura R$ 500 milhões como um todo e mira dobrar a receita até o final de 2026.
“Por mais de 40 anos, a Hope só foi underwear. Mas a tendência global de incorporar peças esportivas e confortáveis ao estilo urbano tem crescido muito forte no Brasil. Temos aproveitado a onda do wellness,” Sandra Chayo, a filha do fundador e diretora institucional da empresa, disse ao Brazil Journal. “Com isso, vamos chegar a R$ 1 bilhão de faturamento.”
Boa parte das quase 200 novas unidades vão combinar as marcas Hope Lingerie e Hope Resort, que reúne as peças fitness e de moda praia.
Com um parque fabril em Maranguape, no Ceará, a empresa produz cerca de 1 milhão de peças por mês. “Com a estrutura de máquinas e de infraestrutura que fizemos, a gente consegue ir até o final de 2027. Mas já estamos olhando lá na frente,” diz Sandra. Até 2030, a empresa planeja chegar a 1 mil lojas.
Tímida e avessa à exposição pública, Sandra se tornou a porta voz da marca depois da morte de seu pai, Nissim Hara, em 2020.
O imigrante libânes, que chegou ao Brasil no final dos anos 1950, fundou a Hope em 1966 com um amigo da comunidade judaica. Anos mais tarde, seus irmãos Elie e Henri vieram do Líbano para se juntar à sociedade. E assim a fábrica de calcinhas de Seu Nissim prosperou no Brás.
Arquiteta de formação, Sandra entrou na empresa quando o futuro da empresa se transformou num dilema familiar. Em 1998, Hara queria expandir a marca e tirar a empresa de São Paulo, pois tinha dificuldades em contratar costureiras e mão de obra especializada. Seus irmãos eram contrários ao projeto.
A saída foi dividir a empresa. Enquanto Hara ficou com a Hope, Elie e Henri passaram a tocar a Mash, a marca de underwear masculina, que seguiu com a produção em São Paulo.
A mudança de endereço também carregava uma inquietação de Hara: depois de décadas apenas como uma indústria de vestuário, como a Hope poderia alcançar mais consumidores no varejo? No início dos anos 2000, 70% do faturamento da companhia dependia das lojas de departamento e o restante do varejo multimarcas.
“Seu Nissim tinha um desejo de criar um sistema de venda direta, porta a porta, através de pequenos empreendedores,” lembra José Luís Fernandes, hoje o CEO da companhia, mas na época um consultor externo e amigo de longa data de Hara.
O fundador foi convencido pelas filhas de que o melhor modelo seria o de franquias – além de Sandra, Karen e Daniela também trabalhavam na gestão do negócio. “A primeira loja foi inaugurada em dezembro de 2005. Depois vieram três por ano, depois 10 lojas por ano. E a rede foi crescendo em progressão geométrica,” conta Sandra.
Hoje 60% da produção vai para as lojas franqueadas, 25% para as multimarcas (são 3 mil clientes que comercializam a marca) e 15% para o seu e-commerce.
No plano de expansão, a Hope foca agora nas cidades pequenas e médias, com renda média acima da brasileira. “Quando fizemos o planejamento estratégico, descobrimos que havia cerca de 500 municípios que a marca não tinha nenhuma presença,” diz José Luiz.
A Hope acabou de inaugurar uma loja em Jataí e outra em Mineiros, ambas em Goiás (e que em 2024 estavam entre as 100 cidades mais ricas do agronegócio), em um ranking elaborado pelo Ministério da Agricultura.
De acordo com o CEO, as operações no Centro-Oeste e no Nordeste têm se destacado. O faturamento tem sido acima da média da rede e o número de lojas está crescendo nessas regiões.
Para perseguir o faturamento de R$ 1 bilhão, a companhia segue a receita de alta rentabilidade – uma média de 20% ao ano – com investimentos apenas com capital próprio.
“Meu pai não queria que a gente devesse para bancos. No começo da Hope, ele ficou devendo para banco, para agiota e tinha trauma disso. Então, não queria que as filhas passassem por isso,” lembra Sandra. “Talvez, se a gente tivesse alavancado e assumido riscos, teria crescido mais rápido. Mas esse foi o jeito que a gente cresceu.”