A Hidrovias do Brasil vai vender até R$ 444 milhões em ações numa oferta secundária que dará saída parcial ao Pátria e ao Temasek, o fundo soberano de Singapura.
Os dois são os maiores investidores da companhia de infraestrutura e logística hidroviária, detendo juntos cerca de 44% do capital.
A oferta-base será de R$ 342 milhões (considerando o preço de fechamento de sexta-feira) e poderá ser acrescida em mais 30% caso o hot issue seja exercido, elevando o total para R$ 444 milhões.
O Pátria vai vender parte do equity que tem na Hidrovias por meio do Pátria Fund II, reduzindo a fatia desse fundo de 25,6% para 12,7% caso o hot issue seja colocado. A gestora tem ainda outros 10,2% do capital por meio do Pátria Fund IV.
Já o Temasek — que investe na empresa por meio do fundo Sommerville Investments — vai reduzir sua participação de 8,35% para 4,15%, também considerando a oferta total.
Outro grande acionista da Hidrovias é a Tarpon, que tem 8,78% do capital e não é vendedora na oferta.
O Pátria está vendendo porque o fundo II já terminou seu prazo de desinvestimento. A gestora teve que obter um waiver dos clientes para estender seu prazo de saída da Hidrovias e de outros dois investimentos do portfólio.
O Pátria criou a Hidrovias do zero em 2010, com aquisições de ativos no setor bancadas pelo capital do fundo II. Já o fundo IV entrou na Hidrovias depois do IPO, comprando quando a ação estava perto do low.
Um gestor comprado no papel nota que a saída do Pátria deve transformar a Hidrovias numa corporation de fato, com novos acionistas de referência que precisarão buscar um alinhamento com o management sobre o futuro da empresa.
O Pátria e o Temasek estão aproveitando a alta recente do papel para monetizar seu investimento.
A ação está em alta de 57% desde o início do ano, com a empresa valendo R$ 2,6 bilhões. No IPO em 2020, a companhia havia sido avaliada em mais de R$ 5 bi.
O pricing está marcado para quarta-feira, dia 12.
Os acionistas vendedores terão um lock up de 90 dias, enquanto o Pátria Fund IV (que não está vendendo) terá um lock up de 180 dias.
A oferta vem num momento em que a Hidrovias tem apresentado melhoras operacionais, com um resultado forte no primeiro trimestre impulsionado por uma boa safra de grãos que turbinou os volumes transportados.
A Hidrovias, no entanto, sofre com uma alavancagem ainda alta, mas que tem caído trimestre após trimestre. No primeiro tri, a relação dívida líquida/EBITDA fechou em 4,6x, em comparação a 4,9x no tri anterior, 5,3x no terceiro tri do ano passado e 6,5x no quarto tri de 2021.
“A empresa tem uma dívida alta mas não tem problema de liquidez, porque as dívidas são todas de longo prazo,” disse o gestor.
A alavancagem alta é uma herança de anos difíceis que a companhia enfrentou recentemente, quando sua operação foi fortemente afetada por questões climáticas.
Hoje a Hidrovias tem dois negócios principais: o corredor Norte, que escoa a safra de grãos do norte do Mato Grosso; e o corredor Sul, que transporta principalmente minério de ferro por meio da hidrovia do Rio Paraná. Pouco depois do IPO, uma seca muito forte afetou a navegação do corredor Sul, paralisando a operação por meses. Já no corredor Norte, a companhia sofreu com uma quebra de safra no Mato Grosso.
“Os dois principais negócios, que eram vistos como de baixo risco, sofreram muito nesse período, o que fez o papel desabar,” disse este gestor que tem o papel. “Ainda assim, a Hidrovias conseguiu continuar gerando caixa. O negócio se provou naquele momento.”
Desde meados do ano passado, os problemas climáticos amainaram, e os resultados da companhia melhoraram consistentemente.
A ação fechou sexta-feira a R$ 3,42 e negocia a 9x o lucro estimado para este ano.
Os coordenadores são Itaú BBA (líder), BTG Pactual, Santander e XP.