A Hapvida – uma das maiores posições da carteira de 9 entre 10 gestoras long-only – desabou 17% hoje após o resultado do primeiro trimestre.
“O resultado decepcionou pela sinistralidade e a falta de crescimento orgânico, mas não achei nada de tão grave que justificasse o tamanho da queda,” disse um gestor do Leblon comprado no papel. Segundo ele, a call para discutir os resultados não ajudou: “Foi confuso, com os dois CEOs tentando participar de todas as respostas.”
Desde que a Intermédica foi incorporada pela Hapvida, em fevereiro, Jorge Pinheiro, filho do fundador da Hapvida, e Irlau Machado Filho são co-CEOs da nova empresa. Neste momento, a companha resultante da fusão vale menos do que a Hapvida valia sozinha.
A empresa não conseguiu crescer organicamente: reportou queda de 64 mil vidas quando o mercado esperava um ganho líquido, mesmo que pequeno.
Para o gestor, o trimestre foi concentrado em limpeza de carteiras de companhias adquiridas, “um processo normal quando compram empresas regionais que tinham contratos que deixam de fazer sentido depois que entram no grupo”. No entanto, chamou a atenção o nível de cancelamentos de contratos. “Esse sim pode ter influência da competição, apesar de a companhia garantir que não vê isso como tendência.”
A sinistralidade – 67% na Hapvida e 79,6% na Intermédica – ficou acima da média histórica de 72,9%. Os níveis pré-pandemia eram de entre 55-50% para para a Hapvida e 70-72% para Intermédica. Os sinistros foram afetados pela omicron no início do ano.
O negócio da Hapvida é altamente dependente do repasse de preços autorizado pelo regulador, e, em julho passado, a ANS determinou uma redução de 8% nos planos individuais (30% da receita da companhia) – ainda que a inflação médica continue alta.
Com isso, o tíquete médio da carteira caiu nos últimos trimestres, mas agora os reajustes de preço estão voltando: devem ficar entre 15% e 20% tanto nos planos individuais quanto nos planos corporativos.
A companhia já está aumentando os preços, mas o processo sofre o ‘delay’ do aniversário do contrato.
“É uma questão de tempo para o ticket começar a voltar e reduzir a sinistralidade, além disso não há gastos excepcionais com covid neste tri. Para quem ‘confia’, as margens têm tudo para voltar à normalidade no 2T22,” disse um analista do buyside.
Para o gestor, a ação também reagiu no pregão de hoje a um movimento técnico. “Era um papel que muitos fundos tinham e, nos primeiros sinais de fumaça, a porta ficou estreita e poucos ficaram para entender a dinâmica de forma mais profunda,” disse o gestor, que manteve a posição. “Nós continuamos olhando para o longo prazo e acreditando na forte posição de mercado da empresa, nas oportunidades de crescimento e nas sinergias.”
A decepção de hoje se somou à de fevereiro, quando as duas empresas divulgaram o guidance de sinergias da fusão, que ficou abaixo do esperado; na época, a ação caiu 5%.
“Agora a Hapvida precisa entregar alguns bons resultados para recuperar a confiança”, disse o gestor.
A análise do resultado foi um pouco prejudicada porque a Hapvida não divulgou os dados de janeiro da Intermédica, alegando que a integração com a empresa começou em fevereiro. “Eles poderiam ter divulgado um pro forma para ajudar o mercado,” disse um analista.