A Hapvida reportou um segundo trimestre que deve surpreender o mercado – sugerindo que a operadora da família Pinheiro está recuperando a consistência depois de uma crise de confiança que chegou a fazer o papel cair 36% em um dia.
A sinistralidade veio em 73,9%, abaixo do consenso do sellside, que esperava 74,4%.
Esse número é uma alta de 1,6 ponto percentual em relação ao trimestre anterior, mas isso é explicado por uma sazonalidade natural do mercado. No setor de planos de saúde, a sinistralidade é sempre menor no primeiro e quarto trimestres — já que muitas pessoas viajam, diminuindo o número de consultas e operações — e maior no segundo e terceiro tris.
Historicamente, a sinistralidade da Hapvida sobe de 2 a 3 pontos percentuais entre o primeiro e o segundo tri, um range que estava balizando as projeções dos analistas.
A sinistralidade – na prática a divisão da receita dos planos pelos custos com sinistros – foi ajudada por um aumento do tíquete médio, que subiu 3,8% na comparação sequencial e 12,2% na anual, para R$ 245 por mês.
O CEO Jorge Pinheiro disse ao Brazil Journal que a companhia está “rigorosamente em linha” com todas as promessas que fez no Investor Day de junho.
“Estamos caminhando numa trajetória de recuperação de margens e estamos bastante confiantes que quando esse ciclo que iniciamos em maio terminar, em junho de 2024, a sinistralidade vai estar próxima do patamar histórico, de 68%,” disse ele.
A companhia tem executado dois ciclos em paralelo. Um de receita, com reajustes mais agressivos e recomposição de tíquetes médios; e outro de custos, com a padronização de sistemas e implementação do modelo verticalizado em regiões onde a verticalização ainda é baixa – as chamadas regionais II e III, que englobam essencialmente a operação que era da Intermédica.
Na regional I – as operações do Norte, Nordeste, Centro-Oeste e interior de São Paulo – o nível de verticalização de terapias já é de 80%. Na regional II e III, de apenas 30%.
Segundo o CEO, até o fim do ano a verticalização das regionais II e III já deve atingir esse mesmo patamar, de 80%.
No trimestre, a Hapvida também teve uma melhora importante nas despesas com vendas e administrativas. Como porcentagem da receita, as despesas de vendas caíram de 7,7% no tri anterior para 7% agora; já as despesas administrativas caíram de 9,4% da receita para 9%.
Com isso, a operadora conseguiu entregar um EBITDA ajustado de R$ 606 milhões mesmo com a sazonalidade desfavorável.
A alavancagem da Hapvida também diminuiu no trimestre, caindo de 2,3x EBITDA para 1,6x, a menor alavancagem entre as empresas listadas de saúde. Essa queda teve a ver principalmente com o follow-on de R$ 1,1 bilhão que a empresa fez em abril e com a operação de ‘sale and leaseback’, que levantou outro R$ 1,25 bilhão.
Mas o CFO Mauricio Teixeira disse que a empresa voltou a gerar caixa nos últimos dois trimestres, o que também contribuiu nesse sentido.
No segundo tri, a Hapvida teve uma geração de caixa operacional de R$ 367 milhões, e uma geração de caixa livre (depois do capex e impostos) de R$ 137 milhões. No tri anterior ela havia entregado um free cash flow de R$ 404 milhões, enquanto no quarto tri havia queimado R$ 224 milhões.
O bom resultado operacional veio, no entanto, com uma queda no número de beneficiários. A Hapvida perdeu cerca de 100 mil clientes de seus planos de saúde, em linha com o que vinha sinalizando ao mercado.
Jorge explica que essa queda teve a ver com o cancelamento de alguns produtos que a empresa tinha em cidades com zero de verticalização e que eram muito detratores da sinistralidade.
Segundo ele, a empresa continua reavaliando o portfólio e pode cancelar outros produtos com esse mesmo perfil nos próximos meses. “Mas também lançamos um portfólio novo de produtos, focado nos nossos recursos próprios,” disse o CEO. “Temos mais de 2 mil leitos em unidades próprias que não estão ativos. Então vamos ser bem mais competitivos comercialmente nessas situações.”
A ação fechou o dia a R$ 4,96, com a companhia valendo R$ 37,4 bilhões na Bolsa.